Sábado, 29 de Janeiro de 2000
Sábado, eu e o Diogo, acordámos relativamente
cedo. Com o barulho dos carros e a luz nas persianas, não
era possível dormir até muito tarde. Estivemos a
ler o mail até que apareceu a Patrícia a chamar-nos
para irmos dar uma ajuda na mudança de casa delas.
Elas alugaram uma carrinha para irem buscar uns
sofás e mais uns adereços que gentilmente alguns
amigos e colegas de trabalho delas lhes ofereceram, uma vez que
não precisavam deles. Já tinham ido a S. Anselmo
buscar um sofá que tinha sido oferecido pelo Sr. Oliveira,
o dono do restaurante português cá de SF. E era esse
mesmo sofá que eu e o Diogo teríamos que levar da
garagem até ao 11º andar do prédio.
Parece difícil, mas havia elevador... Só que
o sofá era grande e a cama teimava em abrir nas situações
mais complicadas. Rotações, translações
e combinações dos dois movimentos em diferentes eixos,
foram usadas uma série de vezes, até que o sofá entrou
na sala do apartamento delas.
A Mónica e a Rita é que não
apareciam para irmos almoçar. Quando chegaram e como não
precisavam mais da nossa ajuda e não estavam a pensar perder
tempo com o almoço, eu e o Diogo decidimos ir dar uma volta
a Mission. Almoçamos num Chinês-Tailandês, que é o
que se arranja de mais barato logo a seguir à fast food,
e apanhámos o autocarro em Market para Castro.
Castro como é a zona dos homossexuais é das
zonas mais limpas e seguras de SF e além disso tem algumas
das melhores lojas de discos que encontrei na cidade. Não
se vêem homeless e as casas e ruas estão muito cuidadas,
só que parece que estamos de capuchinho vermelho e só se
vêem lobos, mas inofensivos. Os homens têm ar de muito
lavados, musculosos, sem pêlos e de cabelo curto e as mulheres
são tão másculas que chegamos a ver uma de
bigode e pêra, raro mas era um bigode.
Descemos a 18th até à Mission. Passamos
numa Garage Sale, em que o Diogo comprou o CD dos Spin Doctors
por $2. Havia mais CDs, mas já os tínhamos, mas de
resto não se vendia nada de especial.
Quando chegámos a Mission... é difícil
de descrever, mas é como de repente tivéssemos chegado
ao México. Zapatistas era por todo o lado, com ar de rufias
e a fumar uma substâncias que cheiravam a especiarias.
Vende-se de tudo em Mission. Entra-se numa loja
de coisas usadas e pode-se encontrar desde uma bicicleta Cannondale
de 1979 até a uma guitarra Gibson. Máquinas fotográficas,
objectivas, aparelhagens, leitores de CD portátil, canivetes
suíços e leatherman, mobília, instrumentos
musicais, bicicletas e tudo o que é possível de ser
vendido está lá. A qualidade é que é de
duvidar.
Andámos a ver as lojas, mas como o dinheiro
não dá ainda para grandes aventuras, há que
voltar mais tarde... Mas fiquei com uma ideia, e com a certeza que
andar a passear uma máquina fotográfica sozinho naquela
zona, não deve ser uma boa opção.
A zona apesar de ser um bocado mau aspecto não
tem aqueles anormais que se vêem no centro da cidade. Apesar
dos mexicanos terem ar de rufias e de pertencerem a gangs, não
têm aspecto de deficientes mentais como os homeless. Eu não
sei se isto é bom ou mau para a zona, porque faz deles uns
seres inteligentes que são capaz de roubar, enquanto os
homeless apesar de cheirarem mal e falarem sozinho, não
se metem com as pessoas.
Estivemos à espera que as miúdas aparecessem
na sua carriça, como tínhamos combinado, porque o
Diogo tinha ali um microondas em vista, mas elas deviam de ter
alguma coisa mais ainda para carregar e fomos apanhar o Bart para
Market.
O Bart é o metro privado cá de SF,
porque também existe um metro municipal. Digo-vos que deve
ser o sítio onde eu não quero estar quando houver
um terramoto, mas que os comboios são confortáveis, é verdade.
Carpete e tudo... tudo do que é melhor para quando houver
um incêndio... com tantas normas de segurança, que nem
se pode comer dentro das estações.
Vínhamos a subir Hyde, e deparamos com um
homeless a vender o seu espólio. É normal ver os
homeless a venderem o que encontram nas ruas, e até uma
forma de eles ganharem algum para a bebida em vez de andarem a
importunar as pessoas. O Diogo comprou uns talheres, de ferro claro
e encontrou um maple abandonado na rua, que com uma boa lavagem
e desinfecção ainda vai servir para melhorar a decoração
do estúdio.
Encontrámos a Helena, e quando estávamos
a chegar a casa, chegou um chinoca ao pé de mim a querer
vender um fato impermeável completo da Columbia. Como eu
não tenho nada cá para andar à chuva na bicicleta,
dei uma vista de olhos. Estava em bom estado, um bocado sujo mas
com uma lavagem decente, ficava impecável, apesar do seu
amarelo agressivo. Regateei o preço, mas ficou por $10,
qualquer coisa como 2000$00.
Fomos pousar as compras recentes a casa e decidimos
ir ver a loja de caridade da esquina. Existe uma cadeia de lojas
que aceita doações na forma de roupa, móveis
e ou utensílios que as pessoas já não usam
e depois vendem-nos para angariar fundos para ajudar os mais carenciados.
Vende de tudo. Já lá vi desde calças da Levi's
até aparelhos de manutenção. Eu não
comprei nada, porque, apesar de precisar de uns lençóis,
não sabia a dimensão da minha cama. O Diogo comprou
um miniaspirador.
Como vêem esta é a vida dos estagiários
do Contacto@ICEP em SF. Andar a comprar em lojas de beneficência,
a homeless e apanhar coisas na rua, porque os preços fora
disso são proibitivos... ou será porque há coisas
melhores em que gastar o dinheiro.
Às 20h fomos ter com o resto do pessoal que
vinha jantar em SF. O Nuno, a Júlia, o Tiago, os Andrés,
a Helena, a Joana, o Nelson e o Carlos. Fomos jantar ao Silver
em Washington em Chinatown, pela última vez. Não é que
na hora de pagar a tipa me cobra $10 de gorjeta... eu dou se quiser,
já chegámos à china ou quê?
Fomos buscar as meninas das mudanças a casa,
e fomos para o pub Irlandês do costume, o Foley's em O´Farrel.
Se na semana passada estava uma banda de country a tocar, nesta
estava uma de reggae. A Irlanda está em mutação.
O pub estava um bocado às moscas, e nós estávamos
cansados e com sono, mas ficámos até que nos mandassem
embora. A melhor coisa do pub é a cerveja. Tem uma variedade
de 10 ou 12 cervejas diferentes, entre elas Guiness, claro!
Os do sul de S. Francisco, foram-se embora e como
elas tinham a carrinha alugada até de manhã, fomos
dar uma volta. Rumámos a Twin Peaks. Depois de termos tomado
uns desvios em Castro e na zona, sempre com medo que a carrinha
avariasse naquelas subidas íngremes e fossemos atacados
pelos "lobos" da zona, conseguimos chegar próximo do topo
das montanhas.
A vista é magnífica, apesar de estar
a começar a chover e do frio ser bastante. O nevoeiro e
a poluição não deixava que se visse o Financial
District com clareza, mas a cidade à noite vista daquele
ponto é fantástica. As luzes da cidade, das cidades
em volta da baía e dos carros na escuridão da noite
conseguem transmitir uma paz... É mais um sítio para
trazer a Cláudia.
Entregámos o carro na garagem e fomos dormir.
Eram 4h da manhã...
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