Domingo, 30 de Janeiro de 2000
Claro que depois de uma noite até tarde,
a manhã estava perdida... mas os chineses lá da rua
tentaram-nos acordar bem cedo com as suas bombinhas. Pelos vistos
havia uma feira em Ellis e o barulho chegava ao 11º andar
dois blocos acima. Fiquei com vontade de estar presente para o
ano novo chinês que é algures em Fevereiro.
Fomos almoçar ao MacDonalds. Já estava
a enjoar a comida chinesa e tailandesa, depois do almoço
e jantar de sábado.
O Carlos passeava na cidade e pela primeira vez
viu os tipos a empurrarem o cable car na placa giratória
de Powell St.
O tempo estava um bocado cinzento e o pessoal estava
ainda meio ensonado, pelo que fomos tomar um expresso ao Starbuck,
que por sinal é um dos melhores da cidade.
Tentei ir comprar uma câmara à CompUSA,
mas é melhor pela promoção da IBM que dá 4000$00
de volta na compra de um câmara que custa 10000$00. Vale
a pena esperar mais uns dias.
O André, que tinha dormido em casa do Diogo,
foi-se embora para casa... algures ali para os lados de S. José,
e nós fomos ao The Good Will, aquela loja de beneficência
que vos falei na crónica de sábado. Comprei uns lençóis
e umas canecas para o leite. Da colecção de canecas,
que devem imaginar que há numa loja destas e nos Estados
Unidos onde toda a gente usa canecas para tudo, consegui arranjar
duas relativamente bonitas, mas a melhor ficou a Rita com ela... o
símbolo químico da cafeína... afinal de contas
ela é que é a Bioquímica.
O Diogo foi lavar roupa para casa e elas foram para
casa. Eu e o Carlos decidimos ir visitar Haight St. A zona dos
hippies. Ele queria ir a Fisherman's Wharf, mas eu convenci-o que
com aquele tempo e às 5h da tarde já não ia
ver Alcatraz e que possivelmente o resto também.
O Carlos passou-se com a Amoeba, a maior loja de
discos que eu alguma vez vi... e que já vos falei em anteriores
crónicas. Ainda andamos a ver lojas de roupa usada e vimos
um cartaz da Sandman numa loja especializada em cartazes. Rimo-nos
com as personagens que vagabundeiam na rua e com as decorações
das lojas. Aliás na Amoeba estavam um grupo de góticos
fantástico, pareciam os Kiss, com creme branco na cara para
simular a palidez, com umas botas de tacão alto e todos
de preto... a rirem à gargalhada... e eu a pensar que os góticos
eram um bocado para o triste.
Quando estávamos na paragem para voltar,
apareceu uma bola de bowling com braços e pernas. Estão
a ver o boneco da Michelin? Pois imaginem que lhe mandaram um murro
na cabeça e ficou mais baixo e achatado. Pois bem, era assim... só não
vi os buracos para pôr os dedos na bola, mas deviam de lá estar.
E quando o autocarro chegou, o tipo meteu-se à frente de
toda a gente e subiu para o autocarro... ou devia de dizer que o
autocarro desceu para ele? É que com o peso dele (e não
estou a exagerar) a suspensão do autocarro foi um bocado
a baixo. O tipo agarrou-se ao corrimão para subir e mandou-se
para a frente, mas como o autocarro foi abaixo ele ia caindo para
trás em cima do Carlos. O que vale é que ele se agarrou.
E o andar do tipo?... não dá para descrever, era como
se cada perna tivesse que descrever um semi círculo exterior
para chegar à frente... e os braços eram assim umas
coisinhas que saiam da parte superior da terceira barriga pela
altura das mamas. Só visto!
Mas conseguiu entrar e ocupar dois bancos... pelo
preço de um!
Lá dentro vinha um tipo de cabelo azul e
com ar de deficiente mental. Tinha uma cicatriz na cabeça
maior que a palma da minha mão... só tenho a certeza
que não lhe fizeram uma lobotomia porque ele se levantou
e saiu sozinho, porque a cara dele era de quem estava em qualquer
lado menos no autocarro. Foi aí que e o Carlos começamos
a concordar que apesar de pensarem que isto é a gozar, esta é uma
nação de excluídos. Desde homeless a pessoas
com deficiências é fácil pensar que estamos
num freak show. As saudades que eu tenho da Europa e começo
a compreender os filmes do David Lynch.
Quando saímos em Market e até que
chegássemos a casa das miúdas veio atrás de
nós uma bêbada a cantar a nova música da Mel
C. "You´re my shinning star" cantada por uma bêbada
com voz esganiçada e aos berros é das melhores imagens
de fim de tarde que eu vou guardar de SF... só talvez superada
pelo bowling man.
O Carlos foi-se embora para Fremont e eu fui responder
aos enumeros e-mails em atraso e enviá-los.
Jantámos todos em casa delas e fomos dormir
que hoje era um dia de trabalho.
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