SEGUNDA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2000 C17
No Starbuck's de O'Farrell - Fotografia de Rui Gonçalves

Domingo, 30 de Janeiro de 2000

Claro que depois de uma noite até tarde, a manhã estava perdida... mas os chineses lá da rua tentaram-nos acordar bem cedo com as suas bombinhas. Pelos vistos havia uma feira em Ellis e o barulho chegava ao 11º andar dois blocos acima. Fiquei com vontade de estar presente para o ano novo chinês que é algures em Fevereiro.

Fomos almoçar ao MacDonalds. Já estava a enjoar a comida chinesa e tailandesa, depois do almoço e jantar de sábado.

O Carlos passeava na cidade e pela primeira vez viu os tipos a empurrarem o cable car na placa giratória de Powell St.

O tempo estava um bocado cinzento e o pessoal estava ainda meio ensonado, pelo que fomos tomar um expresso ao Starbuck, que por sinal é um dos melhores da cidade.

Tentei ir comprar uma câmara à CompUSA, mas é melhor pela promoção da IBM que dá 4000$00 de volta na compra de um câmara que custa 10000$00. Vale a pena esperar mais uns dias.

O André, que tinha dormido em casa do Diogo, foi-se embora para casa... algures ali para os lados de S. José, e nós fomos ao The Good Will, aquela loja de beneficência que vos falei na crónica de sábado. Comprei uns lençóis e umas canecas para o leite. Da colecção de canecas, que devem imaginar que há numa loja destas e nos Estados Unidos onde toda a gente usa canecas para tudo, consegui arranjar duas relativamente bonitas, mas a melhor ficou a Rita com ela... o símbolo químico da cafeína... afinal de contas ela é que é a Bioquímica.

O Diogo foi lavar roupa para casa e elas foram para casa. Eu e o Carlos decidimos ir visitar Haight St. A zona dos hippies. Ele queria ir a Fisherman's Wharf, mas eu convenci-o que com aquele tempo e às 5h da tarde já não ia ver Alcatraz e que possivelmente o resto também.

O Carlos passou-se com a Amoeba, a maior loja de discos que eu alguma vez vi... e que já vos falei em anteriores crónicas. Ainda andamos a ver lojas de roupa usada e vimos um cartaz da Sandman numa loja especializada em cartazes. Rimo-nos com as personagens que vagabundeiam na rua e com as decorações das lojas. Aliás na Amoeba estavam um grupo de góticos fantástico, pareciam os Kiss, com creme branco na cara para simular a palidez, com umas botas de tacão alto e todos de preto... a rirem à gargalhada... e eu a pensar que os góticos eram um bocado para o triste.

Quando estávamos na paragem para voltar, apareceu uma bola de bowling com braços e pernas. Estão a ver o boneco da Michelin? Pois imaginem que lhe mandaram um murro na cabeça e ficou mais baixo e achatado. Pois bem, era assim... só não vi os buracos para pôr os dedos na bola, mas deviam de lá estar. E quando o autocarro chegou, o tipo meteu-se à frente de toda a gente e subiu para o autocarro... ou devia de dizer que o autocarro desceu para ele? É que com o peso dele (e não estou a exagerar) a suspensão do autocarro foi um bocado a baixo. O tipo agarrou-se ao corrimão para subir e mandou-se para a frente, mas como o autocarro foi abaixo ele ia caindo para trás em cima do Carlos. O que vale é que ele se agarrou. E o andar do tipo?... não dá para descrever, era como se cada perna tivesse que descrever um semi círculo exterior para chegar à frente... e os braços eram assim umas coisinhas que saiam da parte superior da terceira barriga pela altura das mamas. Só visto!

Mas conseguiu entrar e ocupar dois bancos... pelo preço de um!

Lá dentro vinha um tipo de cabelo azul e com ar de deficiente mental. Tinha uma cicatriz na cabeça maior que a palma da minha mão... só tenho a certeza que não lhe fizeram uma lobotomia porque ele se levantou e saiu sozinho, porque a cara dele era de quem estava em qualquer lado menos no autocarro. Foi aí que e o Carlos começamos a concordar que apesar de pensarem que isto é a gozar, esta é uma nação de excluídos. Desde homeless a pessoas com deficiências é fácil pensar que estamos num freak show. As saudades que eu tenho da Europa e começo a compreender os filmes do David Lynch.

Quando saímos em Market e até que chegássemos a casa das miúdas veio atrás de nós uma bêbada a cantar a nova música da Mel C. "You´re my shinning star" cantada por uma bêbada com voz esganiçada e aos berros é das melhores imagens de fim de tarde que eu vou guardar de SF... só talvez superada pelo bowling man.

O Carlos foi-se embora para Fremont e eu fui responder aos enumeros e-mails em atraso e enviá-los.

Jantámos todos em casa delas e fomos dormir que hoje era um dia de trabalho.



Índice: Página I1 Col. 1
Próxima Crónica: Página C18 Col. 1