QUARTA-FEIRA, 26 DE JANEIRO DE 2000 C13
Aves na Baía - Fotografia de Rui Gonçalves

Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2000 

Hoje o dia nasceu radiante e o sol espreitou logo pelas primeiras horas da manhã... deve ser por isso que estou com dor de cabeça.

Depois do banho e dos dentes lavados, montei a VayNessa e fiz os 6,5 quilómetros que vão de casa ao trabalho em 20 minutos, mas sem puxar muito para não cheirar mal à chegada e porque não tinha tomado o pequeno almoço.

Afinal isto tem as suas belezas, só se mostram é com o sol. Para os menos atentos, não estou a falar das mulheres, porque embora nós vejamos no Babe Watch aqueles pedaços de mulher, aqui na pradaria onde elas deveriam andar à solta, não se vê nada. As mulheres aqui ou são gordas e pouco interessantes, ou magras e deslavadas. Não têm sensualidade nenhuma e as poucas que têm, andam escondidas. Raramente se vê a forma da cintura de uma mulher tal é a forma desinteressante com que se vestem, mas o volume das mamas tem que estar sempre à vista, mesmo que seja artificial, uma vez que é através desse meio que o macho americano escolhe a fêmea e esta se propõe ao macho para o acto de reprodução da espécie. Isto do macho e fêmea é subjectivo, quando a fêmea pode ser do sexo masculino e/ou o macho do sexo feminino.

Mas estava a falar de belezas naturais. Cavalos a pastar no verde dos campos, a baía e as suas pontes, a beleza das águas paradas e os seus reflexos, os patos a nadar e as aves de rapina a rondar. Hoje acho que ouvi um leão marinho à saída do trabalho e assustei um falcão à hora do almoço... ninguém o mandou estar à espera de ratos tão perto do caminho. Existem algumas garças, mas poucas.

Cheguei ao escritório e fui tomar um cafézinho e uns bagels torrados com manteiga. Vi a Uma fazer aquilo e até que é bom. A Uma é uma rapariga indiana, ou de origem indiana, para aí com um metro e cinquenta, dos quais um é de cabelo e com a cabeça muito pequena, mas não achatada. É muito simpática, e foi a única pessoa que não me conhecia no lanche da passada sexta e que teve a coragem de vir falar comigo. Gostei da moça!!!

Continuei sem fazer nada!!! O meu PC tem instalado o Windows NT e enquanto eu não tiver um user no servidor ando a pentear macacos... assim, fui ao banco levantar dinheiro e comprar um cadeado para a bicicleta. Já tenho dinheiro para pagar o apartamento em Fevereiro, porque se não tivesse até ao dia 4 pagava $78 a mais... e eu não nado em dinheiro para andar a dar 16 contos todos os meses.

Voltei ao trabalho e estive a criar uma mailing list para o pessoal que está no México, outra para o que está na Costa Leste dos EU e uma para todos os que estão no continente norte americano, incluindo México e Cuba.

O meu chefe que é português de terceira geração nos Estados Unidos, que não fala quase uma palavra de português, cujo avô é das Flores e ele nunca lá foi, apesar de viver num barco e fazer vela, apareceu para ir buscar um CD e mais uma vez estive a falar com ele sobre a minha situação de inútil na empresa, por culpa deles... mas a culpa é do escritório central em Iowa que têm que abrir a minha conta no servidor.

O meu chefe que se chama Keneth Pimentel, aqui há dias, quando lhe disse que tinha arranjado apartamento, ficou um bocado mal e pediu-me desculpa porque ele tem um apartamento que não usa, porque vive num barco, mas vai lá duas vezes por semana por causa dos filhos e tornava-se um bocado mau eu lá estar. O gajo deve ser divorciado... será que também é gay? Para me convidar para fazer vela... Depois de estar no mar, não há por onde fugir... O que vale é que vai toda a gente da empresa, incluindo mulheres.

A Karen, a esquimó africana de ontem, veio-me perguntar se eu estava bem instalado no hotel. Pensava que eu estava ali com a Barbara Streisand, o Frigorífico Pinóquio e o Burro Albino... lá lhe expliquei a minha situação e perguntou-me se tinha nascido em Portugal, ao que me contou teve um namorado meio indiano, meio português... se calhar de Goa ou coisa parecida... e se calhar achava que todos os portugueses eram de lá.

Houve ainda um cromo que se virou para mim e perguntou se o café ali era muito pior que o que se encontrava em França. Eu disse-lhe que não sabia... e o gajo engasgou-se!!! Lá tive que explicar outra vez e o tipo pediu-me desculpa mil vezes... não sei o que é que o tipo pensa dos franceses, mas pelos vistos não deve ser grande coisa.

Vim para casa às escuras! Estes tipos não põem luzes na rua... e eu ainda não tenho luz na ginga. Não passei por cima de nenhum cão, porque esses usam coleiras com luzes vermelhas a piscar como as da minha bicicleta que ficaram em Portugal. Os donos usam lanternas que gostam de apontar à cara de quem passa para ver se caímos da berma abaixo directos para a água.

Jantei rápido à "conversa" com o Tiago Sacchetti via ICQ... estivemos a matar saudades mútuas quase duas horas. Tenho que marcar mais coisas destas... amanhã vou tentar instalar o Net Meeting e arranjar uma câmara no FDS... quero estar a par das tecnologias.

Ah! Por falar em estar a par. O Dave, o tipo que me salvou no dia em que cheguei e não estava ninguém no escritório, viu-me a ouvir música e perguntou-me se eu tinha algum programa para comprimir música em MP3. Mas isso é coisa que se pergunte a quem tem 5 CDs de MP3? Claro que tenho, mas é pirata... O gajo ficou mais que contente, isto porque é baterista numa banda e quer pôr as músicas online. Resultado, passou o dia a perguntar-me coisas sobre MP3, Real Audio e afins. Tive que afastar a melga... Não! É um tipo fixe, assim, meio atravessado, mas porreiro. Usa pêra aloirada e anda sempre de roupa semi-desportiva... tem um jipe e já me convidou para ir andar de BTT.

O Jesse que é o responsável pela manutenção toda do escritório, desde a comida ào economato, ficou parvo quando viu a Vaynessa, porque já se comentava que em Portugal só se andava de BMX. Isto porque o Antão (o que saiu uma reportagem na revista do Expresso há uns meses) que trabalhou cá, anda de BMX e a caixa da minha bicicleta era pequena, porque ela vinha desmontada. O Ken, o meu chefe ex-açoriano, perguntou-me se aquilo laranja era o conta-quilómetros, lá lhe tive que explicar que aquilo eram mesmo os travões hidráulicos... há gente ignorante na terra da BTT.

Está a dar o Star Trek New Generation num dos 46 canais de TV que há cá em casa. O Singh, o Sikh cá da casa entrou às 20h e saiu às 21h sem comer e só se deitou um bocado... pelos vistos era um intervalo entre as aulas de C e o emprego da noite. O gajo tinha três empregos e passou um deles agora. Faz entregas em SF e trabalha num cinema em Sausalito... espero que haja bilhetes para os amigos.

Eu vou dormir...



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