C12 TERÇA-FEIRA, 25 DE JANEIRO DE 2000
Casas Barco em Sausalito - Fotografia de Rui Gonçalves

Segunda-Feira, 24 de Janeiro de 2000 (Cont.)

Ontem depois de estar a tarde toda quase sem fazer puto, fui para casa. A cabeça doía de nada fazer, e tentar arranjar que fazer na Internet. Cheguei por volta das 8h da noite e cheio de sono e fome... larguei tudo em casa e fui ao Safeway.

Existe um centro comercial mesmo aqui do outro lado da rua. Tem quase tudo, até uma loja de mobília e acessórios par a casa... como é que se pode ter mau gosto. A mobília parece aquela da casa onde eu e o Pipa vivíamos na Bobadela, quando estávamos a trabalhar em Lisboa... embora os edredões fossem muito mais bonitos que os da dita casa.

No Safeway, comprei cebolas amarelas... Sim! Porque estes tipos têm vários tipos de cebolas e entre elas umas enormes e brancas!! Comprei tangerinas, bananas e maçãs o mais normal possível, embora houvesse várias espécies e enormes. Estes americanos andam a brincar com os genes das coisas... Arroz cru e decente só em sacos de 4,5 kg. Acreditam? Tenho arroz para 9 meses se não se estragar. O Azeite era de Itália, mas não havia nenhum de Portugal. Aliás a única coisa que encontrei de Portugal foi o vinho do Porto e desse havia bastante. Comprei um pão que sabe a fritos esquisitos e não foi parar ao lixo porque a manteiga e o salame disfarçam. Comprei o vinho mais barato do supermercado por $2.99, quase 600$00... só que me esqueci que o Indiano é Sikh e não devia beber bebidas alcoólicas e portanto não tinha saca-rolhas... uma treta, já encontrei uma garrafa de Budweiser cá em casa.

Mas não tive coragem de fazer o jantar e comi qualquer coisa antes de ir para a cama e enquanto me ligava à Internet e descarregava alguns e-mails. Principalmente do pessoal que atenciosamente me quis dar uma forcita por causa da minha aparente desmoralização. Obrigado a todos.

Terça-feira, 25 de Janeiro de 2000

Dormi no saco cama, porque não tenho lençóis nem cobertores... mas dormi tão bem.

Acordei às 8h da manhã... e só demoro 15 minutos de casa ao autocarro e de autocarro ao trabalho... pelo menos 30m menos em cada viagem do que quando estava em SF. E sem apanhar grandes filas de trânsito.

Cheguei ao escritório e tomei o meu pequeno almoço... um cafézito e um bolo parecido com as tortas das padarias de Aveiro... e uma Bagel com manteiga! Não perguntem, mas parece um scone, mas pior.

E de volta ao não fazer nada. E ler o e-mail. Eh! Pá 20 mails... fantástico... alguns nem tiveram tempo de respirar e foram parar ao lixo imediatamente.

Finalmente comecei a fazer alguma coisa por voltas das 10h... estão cá uns americanos que vão ter uma formação sobre o sistema para o qual eu vou trabalhar e eu fui assistir à apresentação.

O formador é um inglês chamado Ian, que tem um sotaque meio americano e meio inglês e se parece com o Michael Caine, envergava o seu melhor par de meias para a apresentação, assim como um puto que deve ser de origem italiana a avaliar pela penca que apresenta. Não sei como é que este pessoal anda de meias e depois ao andar faz abanar a estrutura da sala, porque aquilo é de madeira. Eu acho que é porque se houver um terramoto ninguém sabe se o é ou se é alguém a passar no corredor. Imaginem um tipo género frigorifico a passar descalço e o projector a abanar sem se conseguir ler o que lá está escrito.

A apresentação começou com uma demonstração do VisConcept (a tal aplicação) que serve para fazer apresentações de protótipos antes da sua produção e em tamanho real. É género um Powerpoint para 3D. Andei a ver as coisas com uns óculos especiais de 3D. E a sala de apresentação é espectacular, com três écrans enormes e sensores de presença em todo o lado... parece uma daquelas demonstrações que só se vê em feiras. O cliente principal da aplicação é a General Motors.

Então estávamos na sala de apresentações, para além do inglês descalço, eu e o italo-descendente de penca grande e descalço, uma típica americana de meia idade, mal vestida com um lindo colete às flores, loira e feia que nem um bode de verrugas e óculos... parecia a Barbara Streisand. Depois havia um frigorífico que embora não fosse de duas portas, era bastante largo com quase 1,5m de largura, com o queixo lançado para a frente tipo caleira dos prédios, mas disfarçada com uma barbita mal feita, um rabo de cavalo até ao cu e um nariz digno do Pinóquio... uma peça digna de ser imortalizado em cera, de preferência quente. Ainda havia um típico jovem americano loiro, quase sem barba e com umas sobrancelhas tão loiras, tão loiras que o tipo até parecia albino... e não devia muito à inteligência, porque além de andar sempre a fazer perguntas, queria olhar por baixo de um modelo na demonstração... aquilo é virtual mas nem tanto.

Mas a aplicação que até é bastante interessante, está cheia de bugs. Parece o LONGA (Ei! Pessoal do CET, vocês não são os únicos a fazer merda)... não percebo como é que em Portugal não fazemos melhor que aquilo, só porque não temos a tecnologia ou porque temos as vistas curtas... acho que deve ser isso. Mas como aquilo estava sempre a crashar e a sala de reuniões estava ocupada, fizemos um break para almoço, alargado.

Por volta das 2h, estava a ler a Bike na Casa de Banho. Aconselho a lerem o artigo sobre a viagem que um tipo fez de bicicleta pela China, Tibete e Nepal... começa logo com o tipo a ficar sem a bicicleta e depois seguem-se uma série de peripécias. Pareciam as minhas crónicas condensadas... Mas tive que voltar à formação com o inglês descalço, a Barbara Streisand, o Frigorífico Pinóquio e o Burro albino.

Depois ainda se juntou ao grupo a Karen, uma tipa assim um terço chinesa, um terço mexicana e um terço negra... Uma verdadeira esquimó de africa, com uma tatuagem na mão direita. Era a responsável pela documentação e manual da aplicação, mas pouco sabia de 3D e da aplicação... Cada vez isto se parece mais com Portugal.

Ainda tivemos a colaboração do Gavin, assim um meio termo entre o Rune Hoydahl e o puto australiano , que não me lembra o nome agora (para quem não sabe, são pilotos de BTT, com cara de putos loiros e com a voz de galinha), que mantinha os pés em cima da mesa enquanto demostrava as funcionalidades (que funcionavam) da aplicação.

Os três mosqueteiros americanos passaram à parte seguinte da formação, que era a instalação, mas como a minha máquina está atravessada com problemas de existência do meu utilizador na rede NT... Então fui montar a minha bicicleta. O tempo já está melhor e vou para casa nela.

7,5 kms em meia hora, depois de me perder duas vezes e andar às voltas... sem luz, mas em caminhos para bicicletas, sobre o pantanal, que por vezes se assemelha à ria de Aveiro. Hoje até o cheiro era semelhante. O reflexo das casas e luzes na água fizeram com que o início da travessia se tornasse num espectáculo bonito de fim de tarde.

Fiz um arrozinho para três dias que vou congelar em partes e comi um bifinho com ovo estrelado... e agora depois de acabar esta longa crónica vou lavar os dentes e deitar-me. Acho que pela primeira vez desde que cá estou vou ler antes de dormir.

Um abraço a quem é de abraços e um beijinho para quem é de beijinhos.

E um beijo para a Cláudia...



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