Segunda-Feira, 24 de Janeiro de 2000 (Cont.)
Ontem depois de estar a tarde toda quase sem fazer
puto, fui para casa. A cabeça doía de nada fazer,
e tentar arranjar que fazer na Internet. Cheguei por volta das
8h da noite e cheio de sono e fome... larguei tudo em casa e fui
ao Safeway.
Existe um centro comercial mesmo aqui do outro lado
da rua. Tem quase tudo, até uma loja de mobília e
acessórios par a casa... como é que se pode ter mau
gosto. A mobília parece aquela da casa onde eu e o Pipa
vivíamos na Bobadela, quando estávamos a trabalhar
em Lisboa... embora os edredões fossem muito mais bonitos
que os da dita casa.
No Safeway, comprei cebolas amarelas... Sim! Porque
estes tipos têm vários tipos de cebolas e entre elas
umas enormes e brancas!! Comprei tangerinas, bananas e maçãs
o mais normal possível, embora houvesse várias espécies
e enormes. Estes americanos andam a brincar com os genes das coisas...
Arroz cru e decente só em sacos de 4,5 kg. Acreditam? Tenho
arroz para 9 meses se não se estragar. O Azeite era de Itália,
mas não havia nenhum de Portugal. Aliás a única
coisa que encontrei de Portugal foi o vinho do Porto e desse havia
bastante. Comprei um pão que sabe a fritos esquisitos e
não foi parar ao lixo porque a manteiga e o salame disfarçam.
Comprei o vinho mais barato do supermercado por $2.99, quase 600$00...
só que me esqueci que o Indiano é Sikh e não
devia beber bebidas alcoólicas e portanto não tinha
saca-rolhas... uma treta, já encontrei uma garrafa de Budweiser
cá em casa.
Mas não tive coragem de fazer o jantar e
comi qualquer coisa antes de ir para a cama e enquanto me ligava à Internet
e descarregava alguns e-mails. Principalmente do pessoal que atenciosamente
me quis dar uma forcita por causa da minha aparente desmoralização.
Obrigado a todos.
Terça-feira, 25 de Janeiro de 2000
Dormi no saco cama, porque não tenho lençóis
nem cobertores... mas dormi tão bem.
Acordei às 8h da manhã... e só demoro
15 minutos de casa ao autocarro e de autocarro ao trabalho... pelo
menos 30m menos em cada viagem do que quando estava em SF. E sem
apanhar grandes filas de trânsito.
Cheguei ao escritório e tomei o meu pequeno
almoço... um cafézito e um bolo parecido com as tortas
das padarias de Aveiro... e uma Bagel com manteiga! Não
perguntem, mas parece um scone, mas pior.
E de volta ao não fazer nada. E ler o e-mail.
Eh! Pá 20 mails... fantástico... alguns nem tiveram
tempo de respirar e foram parar ao lixo imediatamente.
Finalmente comecei a fazer alguma coisa por voltas
das 10h... estão cá uns americanos que vão
ter uma formação sobre o sistema para o qual eu vou
trabalhar e eu fui assistir à apresentação.
O formador é um inglês chamado Ian,
que tem um sotaque meio americano e meio inglês e se parece
com o Michael Caine, envergava o seu melhor par de meias para a
apresentação, assim como um puto que deve ser de
origem italiana a avaliar pela penca que apresenta. Não
sei como é que este pessoal anda de meias e depois ao andar
faz abanar a estrutura da sala, porque aquilo é de madeira.
Eu acho que é porque se houver um terramoto ninguém
sabe se o é ou se é alguém a passar no corredor.
Imaginem um tipo género frigorifico a passar descalço
e o projector a abanar sem se conseguir ler o que lá está escrito.
A apresentação começou com
uma demonstração do VisConcept (a tal aplicação)
que serve para fazer apresentações de protótipos
antes da sua produção e em tamanho real. É género
um Powerpoint para 3D. Andei a ver as coisas com uns óculos
especiais de 3D. E a sala de apresentação é espectacular,
com três écrans enormes e sensores de presença
em todo o lado... parece uma daquelas demonstrações
que só se vê em feiras. O cliente principal da aplicação é a
General Motors.
Então estávamos na sala de apresentações,
para além do inglês descalço, eu e o italo-descendente
de penca grande e descalço, uma típica americana
de meia idade, mal vestida com um lindo colete às flores,
loira e feia que nem um bode de verrugas e óculos... parecia
a Barbara Streisand. Depois havia um frigorífico que embora
não fosse de duas portas, era bastante largo com quase 1,5m
de largura, com o queixo lançado para a frente tipo caleira
dos prédios, mas disfarçada com uma barbita mal feita,
um rabo de cavalo até ao cu e um nariz digno do Pinóquio...
uma peça digna de ser imortalizado em cera, de preferência
quente. Ainda havia um típico jovem americano loiro, quase
sem barba e com umas sobrancelhas tão loiras, tão
loiras que o tipo até parecia albino... e não devia
muito à inteligência, porque além de andar
sempre a fazer perguntas, queria olhar por baixo de um modelo na
demonstração... aquilo é virtual mas nem tanto.
Mas a aplicação que até é bastante
interessante, está cheia de bugs. Parece o LONGA (Ei! Pessoal
do CET, vocês não são os únicos a fazer
merda)... não percebo como é que em Portugal não
fazemos melhor que aquilo, só porque não temos a
tecnologia ou porque temos as vistas curtas... acho que deve ser
isso. Mas como aquilo estava sempre a crashar e a sala de reuniões
estava ocupada, fizemos um break para almoço, alargado.
Por volta das 2h, estava a ler a Bike na Casa de
Banho. Aconselho a lerem o artigo sobre a viagem que um tipo fez
de bicicleta pela China, Tibete e Nepal... começa logo com
o tipo a ficar sem a bicicleta e depois seguem-se uma série
de peripécias. Pareciam as minhas crónicas condensadas...
Mas tive que voltar à formação com o inglês
descalço, a Barbara Streisand, o Frigorífico Pinóquio
e o Burro albino.
Depois ainda se juntou ao grupo a Karen, uma tipa
assim um terço chinesa, um terço mexicana e um terço
negra... Uma verdadeira esquimó de africa, com uma tatuagem
na mão direita. Era a responsável pela documentação
e manual da aplicação, mas pouco sabia de 3D e da
aplicação... Cada vez isto se parece mais com Portugal.
Ainda tivemos a colaboração do Gavin,
assim um meio termo entre o Rune Hoydahl e o puto australiano ,
que não me lembra o nome agora (para quem não sabe,
são pilotos de BTT, com cara de putos loiros e com a voz
de galinha), que mantinha os pés em cima da mesa enquanto
demostrava as funcionalidades (que funcionavam) da aplicação.
Os três mosqueteiros americanos passaram à parte
seguinte da formação, que era a instalação,
mas como a minha máquina está atravessada com problemas
de existência do meu utilizador na rede NT... Então
fui montar a minha bicicleta. O tempo já está melhor
e vou para casa nela.
7,5 kms em meia hora, depois de me perder duas vezes
e andar às voltas... sem luz, mas em caminhos para bicicletas,
sobre o pantanal, que por vezes se assemelha à ria de Aveiro.
Hoje até o cheiro era semelhante. O reflexo das casas e
luzes na água fizeram com que o início da travessia
se tornasse num espectáculo bonito de fim de tarde.
Fiz um arrozinho para três dias que vou congelar
em partes e comi um bifinho com ovo estrelado... e agora depois
de acabar esta longa crónica vou lavar os dentes e deitar-me.
Acho que pela primeira vez desde que cá estou vou ler antes
de dormir.
Um abraço a quem é de abraços
e um beijinho para quem é de beijinhos.
E um beijo para a Cláudia...
|