Domingo, 23 de Janeiro de 2000
Que porra de tempo. Chove a cântaros.
Fui ajudar o Diogo a levar as coisas dele da Pousada
para o seu novo estúdio em O'Farrel, a seis quarteirões
dali. mas debaixo de chuva até parece longe. e o portátil
pesa.
O estúdio dele é porreiro. Com cozinha
separada da sala/quarto e com frigorifico e fogão. A banheira é daquelas
com pés. tenho que experimentar aquilo e tirar uma foto
com espuma até aos olhos. A sala/quarto é grande
e com vista para a rua. As traseiras tem uma bela vista para as
escadas de incêndio dos outros prédios. Lindo!
Fomos almoçar ao Civic Center, à procura
de um banco para levantar dinheiro. Começou a chover torrencialmente
e fomos pequeno-almoçar/almoçar a um clone do MacDonalds,
cujo o nome não me lembro. E adivinhem quem lá estava?
O alemão dos gases. Eu já o tinha visto no sábado
ali na zona, quando andava à procura de um posto dos correios.
Mas lá estava ele acabado de comer e a dormir com a cabeça
em cima da mesa. Tirei-lhe uma foto, mas é da face sem o
alfinete-de-ama.
Não vos tinha dito, mas uma das Helenas,
assistiu há dias, na portaria da Pousada, a alguém
a pedir para mudar de quarto urgentemente. O alemão atacou
de novo!!!
Não parava de chover e fomos ficando ali
na conversa. Este país é um país de homeless
e atrasados mentais. Entrou um tipo que começou a falar
na nossa direcção e dizer que tinha perdido o emprego
por nossa causa e foi preciso vir o segurança para o afastar,
embora ele nunca tenha ameaçado fazer nada. Depois veio
uma velha que passou o tempo todo a rir-se a falar sozinha entre
dentes e depois mais alto. Deviam de estar naquele espaço
para aí uns 25-30 homeless. Mas de manhã nas ruas
vêem-se centenas, e não estou a exagerar. Todos com
o seu carrinho das compras com os seus haveres todos e falarem
sozinhos ou com quem passa. Mas não são perigosos,
mas é triste ver um espectáculo destes. É um
circo triste.
Decidimos molhar-nos, porque o ambiente estava a
ficar um pouco surrealista. Corremos por Market St. até encontrar
uma caixa ATM. Mas parámos para tomar café e tirar
uma foto a um homeless que estava ali com um papel que dizia "Why
Lie I want beer". lindo!!!
Conseguimos apanhar uma molha e levantar dinheiro.
O Diogo foi à zona de Mission para comprar mobília
usada para a casa e eu fui mandar uns mails para a CompUSA e telefonar à Cláudia.
Voltei à Pousada. Fui almoçar com
as meninas ao MacDonalds, mas só comi um cheeseburger, que
já começo a enjoar esta porcaria. Voltei à CompUSA.
Ah! Saudades. mas já não está ninguém.
Estive meia hora à espera de um computador a jogar um jogo
de dinaussários e coisas parecidas, enquanto uma gaja lá ao
lado lia o seu mail calmamente e atendia o telemóvel. Quando
o Mac vagou abri o Yahoo e a tipa não tinha saído.
eu sei que é maldade, mas apaguei-lhe as mensagens todas.
Vingança!!!! Nunca se metam com um português que espera
por um computador para matar saudades.
Voltei à pousada com uma passagem pela Virgin,
mas sem receber 2 contos. O jantar foram burritos com arroz pré-cozinhado
mexicano, e com a sempre alegre companhia do Jeffrey e as suas
sempre secas piadas.
O Diogo entrou na pousada com o meu cartão
uma vez que ele já tinha feito o check-out. Pelos vistos
as compras em Mission correram dentro do esperado e no dia seguinte
já tinha colchão. hoje ia dormir numa maca/cama de
campanha que depois com umas almofadas serviriam de sofá.
O engenho português em acção.
Depois das despedidas fui-me deitar. Ainda estive à conversa
com os brasileiros lá do quarto, eles também com
saudades do Brasil. Estivemos a cortar na casaca dos americanos
e no mau nível de vida deles. Não sei como é que
alguém que tem favelas no seu país diz mal dos homeless.
Quiseram falar de futebol, mas tiveram azar na porta. disseram-me
que tinham ido a Monterey, porque eu perguntei onde é que
eles tinham dormido. Acho que eles pensavam que Monterey era ali
perto e apanharam o Ónibus. 4,5 horas depois chegaram a
Monterey e perderam o ónibus de volta e tiveram que lá ficar
a dormir. Ainda foram visitar a Mission de Carmem.
O Americano já tinha ido embora. Eu tinha
estado a falar com ele à tarde e o tipo anda a estudar cozinha
e está a trabalhar como aprendiz num restaurante. É de
uma terra chamada Chico. lá lhe estive a explicar que Chico
não é mais que o diminutivo de Francisco. o tipo
ficou confuso e não sabia se não estaria em casa.
Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2000
Hoje acordei e depois do banho, peguei na tralha
toda e vim para o escritório. Combinei com o Indiano ir
assinar o contrato de arrendamento às 11h, mas perdi o autocarro.
Estes americanos têm uns autocarros muito certos, principalmente
quando nós estamos atrasados. Mas o indiano, não
faz nada de manhã e eu fui no próximo.
Já tenho casa!!!!
Quando sair daqui, e espero ter boleia do meu chefe
para levar a mala, vou às compras e vou fazer um jantar à português.
Existe um Safeway (um tipo de Pingo Doce à americana) a
cerca de 100 metros e eu até azeite já lá vi. é caro,
mas.
O que interessa é que deixei a grande cidade,
já deitava carros e fumo pelos ouvidos. E transportes públicos.
3 horas por dia. Se não fosse o tempo hoje já tirava
a bicla da caixa.
Se me quiserem escrever postais escrevam para:
711, Meadowsweet Dr., Ap. 109
Corte Madera, CA 94925
USA
Mas se quiserem mandar encomendas, tipo Bacalhau
e coisas do género, mandem para:
100, Shoreline Hwy, St. 282
Mill Valley, CA 94941
USA
T: 1-415-339-3226
F: 1-415-339-3201
O telefone de casa ainda não sei qual é,
mas depois divulgo.
Passei o dia sem fazer puto. Espero que amanhã já tenha
que fazer. |