SEGUNDA-FEIRA, 24 DE JANEIRO DE 2000 C11
Why Lie I Want Beer - Fotografia de Rui Gonçalves

Domingo, 23 de Janeiro de 2000

Que porra de tempo. Chove a cântaros.

Fui ajudar o Diogo a levar as coisas dele da Pousada para o seu novo estúdio em O'Farrel, a seis quarteirões dali. mas debaixo de chuva até parece longe. e o portátil pesa.

O estúdio dele é porreiro. Com cozinha separada da sala/quarto e com frigorifico e fogão. A banheira é daquelas com pés. tenho que experimentar aquilo e tirar uma foto com espuma até aos olhos. A sala/quarto é grande e com vista para a rua. As traseiras tem uma bela vista para as escadas de incêndio dos outros prédios. Lindo!

Fomos almoçar ao Civic Center, à procura de um banco para levantar dinheiro. Começou a chover torrencialmente e fomos pequeno-almoçar/almoçar a um clone do MacDonalds, cujo o nome não me lembro. E adivinhem quem lá estava? O alemão dos gases. Eu já o tinha visto no sábado ali na zona, quando andava à procura de um posto dos correios. Mas lá estava ele acabado de comer e a dormir com a cabeça em cima da mesa. Tirei-lhe uma foto, mas é da face sem o alfinete-de-ama.

Não vos tinha dito, mas uma das Helenas, assistiu há dias, na portaria da Pousada, a alguém a pedir para mudar de quarto urgentemente. O alemão atacou de novo!!!

Não parava de chover e fomos ficando ali na conversa. Este país é um país de homeless e atrasados mentais. Entrou um tipo que começou a falar na nossa direcção e dizer que tinha perdido o emprego por nossa causa e foi preciso vir o segurança para o afastar, embora ele nunca tenha ameaçado fazer nada. Depois veio uma velha que passou o tempo todo a rir-se a falar sozinha entre dentes e depois mais alto. Deviam de estar naquele espaço para aí uns 25-30 homeless. Mas de manhã nas ruas vêem-se centenas, e não estou a exagerar. Todos com o seu carrinho das compras com os seus haveres todos e falarem sozinhos ou com quem passa. Mas não são perigosos, mas é triste ver um espectáculo destes. É um circo triste.

Decidimos molhar-nos, porque o ambiente estava a ficar um pouco surrealista. Corremos por Market St. até encontrar uma caixa ATM. Mas parámos para tomar café e tirar uma foto a um homeless que estava ali com um papel que dizia "Why Lie I want beer". lindo!!!

Conseguimos apanhar uma molha e levantar dinheiro. O Diogo foi à zona de Mission para comprar mobília usada para a casa e eu fui mandar uns mails para a CompUSA e telefonar à Cláudia.

Voltei à Pousada. Fui almoçar com as meninas ao MacDonalds, mas só comi um cheeseburger, que já começo a enjoar esta porcaria. Voltei à CompUSA. Ah! Saudades. mas já não está ninguém. Estive meia hora à espera de um computador a jogar um jogo de dinaussários e coisas parecidas, enquanto uma gaja lá ao lado lia o seu mail calmamente e atendia o telemóvel. Quando o Mac vagou abri o Yahoo e a tipa não tinha saído. eu sei que é maldade, mas apaguei-lhe as mensagens todas. Vingança!!!! Nunca se metam com um português que espera por um computador para matar saudades.

Voltei à pousada com uma passagem pela Virgin, mas sem receber 2 contos. O jantar foram burritos com arroz pré-cozinhado mexicano, e com a sempre alegre companhia do Jeffrey e as suas sempre secas piadas.

O Diogo entrou na pousada com o meu cartão uma vez que ele já tinha feito o check-out. Pelos vistos as compras em Mission correram dentro do esperado e no dia seguinte já tinha colchão. hoje ia dormir numa maca/cama de campanha que depois com umas almofadas serviriam de sofá. O engenho português em acção.

Depois das despedidas fui-me deitar. Ainda estive à conversa com os brasileiros lá do quarto, eles também com saudades do Brasil. Estivemos a cortar na casaca dos americanos e no mau nível de vida deles. Não sei como é que alguém que tem favelas no seu país diz mal dos homeless. Quiseram falar de futebol, mas tiveram azar na porta. disseram-me que tinham ido a Monterey, porque eu perguntei onde é que eles tinham dormido. Acho que eles pensavam que Monterey era ali perto e apanharam o Ónibus. 4,5 horas depois chegaram a Monterey e perderam o ónibus de volta e tiveram que lá ficar a dormir. Ainda foram visitar a Mission de Carmem.

O Americano já tinha ido embora. Eu tinha estado a falar com ele à tarde e o tipo anda a estudar cozinha e está a trabalhar como aprendiz num restaurante. É de uma terra chamada Chico. lá lhe estive a explicar que Chico não é mais que o diminutivo de Francisco. o tipo ficou confuso e não sabia se não estaria em casa.

Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2000

Hoje acordei e depois do banho, peguei na tralha toda e vim para o escritório. Combinei com o Indiano ir assinar o contrato de arrendamento às 11h, mas perdi o autocarro. Estes americanos têm uns autocarros muito certos, principalmente quando nós estamos atrasados. Mas o indiano, não faz nada de manhã e eu fui no próximo.

Já tenho casa!!!!

Quando sair daqui, e espero ter boleia do meu chefe para levar a mala, vou às compras e vou fazer um jantar à português. Existe um Safeway (um tipo de Pingo Doce à americana) a cerca de 100 metros e eu até azeite já lá vi. é caro, mas.

O que interessa é que deixei a grande cidade, já deitava carros e fumo pelos ouvidos. E transportes públicos. 3 horas por dia. Se não fosse o tempo hoje já tirava a bicla da caixa.

Se me quiserem escrever postais escrevam para:
711, Meadowsweet Dr., Ap. 109
Corte Madera, CA 94925
USA

Mas se quiserem mandar encomendas, tipo Bacalhau e coisas do género, mandem para:
100, Shoreline Hwy, St. 282
Mill Valley, CA 94941
USA
T: 1-415-339-3226
F: 1-415-339-3201

O telefone de casa ainda não sei qual é, mas depois divulgo.

Passei o dia sem fazer puto. Espero que amanhã já tenha que fazer.



Índice: Página I1 Col. 1
Próxima Crónica: Página C12 Col. 1