Ontem tive que vos deixar à pressa, porque
um colega precisava do PC, onde eu ando a vasculhar a rede e como
ainda não tenho um para mim e nem um acesso...
Domingo, 16 de Janeiro de 2000
Quando acordei no Domingo, o Jeffrey, o nobre americano
pintado de branco, estava possesso com o alemão contorcionista
e faquir. Pelo que parece o alemão, para além de
se espetar com alfinetes-de-ama, também lava os pés
no lavatório onde o americano lava os dentes e além
disso larga-se ruidosamente durante a noite. Eu como ando cansado
e ocupado, nunca tinha visto tal coisa. O Jeffrey mudou de quarto
e fez um reparo na portaria em relação ao alemão
farpador e pivetoso.
Eu fui comprar o Marin Independent Journal, para
ver os anúncios de quartos, e depois de um Biscuit com Bacon & Eggs
no MacDonalds fui ter com os outros contacteantes à sala
de convívio e leitura da pousada. Ah! O Mac aqui tem uns
pequenos almoços melhores que os almoços.
Estive uma boa meia hora a mandar para o lixo a
tralha que sai ao domingo com o jornal, e até nem era um
jornal muito importante, porque o San Francisco Examiner até dava
dó. Nunca mais digo mal do Expresso. Já perguntei
em dois sítios que vendem jornais de todas as nações,
mesmo daqueles que ninguém consegue ler, se tem jornais
portugueses... mas não vi nenhum.
No entretanto chegou o Tiago, a Joana, o Nuno e
a Helena, que tinham vindo de Portugal na noite anterior. O Tiago
na sua carrinha alugada pela empresa, servia de choffeur aos colegas.
A Helena ficou na pousada e os outros partiram em stress para arranjar
uma casa lá para o sul da baia.
Voltei ao jornal e os outros ao trabalho para o
ICEP, que eu tenho estado a fazer nas horas de trabalho, que não
existe, ainda.
Encontrei um share room em Corte Madera, qualquer
coisa como 4kms de Mill Valley. Telefonei e atendeu-me um tipo
que devia ser indiano, pelo sotaque. Combinei lá estar às
15h, e estava. Pontualidade nunca ficou mal a ninguém e
há que mostrar a estes cães quem é que se
sabe portar.
O gajo não só era indiano, como era
Sikh do Punjab, há dez anos nos EU. Maravilha. Gentilmente,
mandou-me tirar os sapatos, porque a maioria das doenças
transmitem-se pelos sapatos. Vai lá um gajo acreditar nestas
merdas.
A cozinha era fantástica e limpa. Microondas,
fogão e frigorifico. Não me lembro de ver a maquina
de lavar a loiça, mas de certeza que tem, apesar de estes
gajos nunca comerem em casa e não sujarem loiça.
A sala é grande e tem daqueles sofás que uma pessoa
se encosta e sai uma coisa debaixo dos pés, tem uma aparelhagem
Sony e uma televisão modesta para americano... mas também
aquilo era de um Irlandês e vivia lá um indiano e
um japonês que no entretanto tinha saído.
O quarto é grande, embora estivesse inundado
em Brise para disfarçar o cheiro a caril, de certeza, porque
esteve lá o primo do Singh (sim o indiano tem nome!). Tem
uma varanda com artefactos de barbecue e uma piscina nas traseiras
de uso comum do condomínio, como é normal naquela
zona.
O Gerente estava para fora, e fiquei de lhe telefonar
para estabelecer o contrato. Ainda não consegui falar com
o cão irlandês.
Fui a pé até Mill Valley. Claro, que
como conhecedor da zona, fui mesmo pelo caminho mais longo. Mas
de certo que era o mais bonito e o dia ajudava porque o tempo não
estava muito mau. Subi, até ao topo de um monte e vi SF.
Trilhos pedestres por todo o lado e ciclistas a passar... os pássaros
a cantar e tudo muito verde. Mas realmente a distancia até que
era muita... só ontem é que vi um mapa da zona e
vi que realmente eu andei um bocado... mas também faz bem,
a quem está sentado o dia todo.
Cheguei à pousada às 19h, e os cromos
ainda estavam a trabalhar. Fui ao supermercado Safeway fazer umas
compras para o jantar do pessoal. A Mónica impressionada
com a visão de um jantar de uma oriental no dia anterior,
não queria ouvir falar em coxas de frango e nem sequer em
eu cozinhar.
A velha receita de frango, com cerveja e uma sopinha
instantânea de cebola. Microondas com o pito e até um
japonês queria comer connosco. Disse-lhe que era uma receita
muito popular em Portugal e que com Vinho do Porto era uma maravilha.
O jap. até lhe brilhavam os olhos e salivava a boca a olhar
para os tinhosos dos portugas que nem lhe ofereceram. A massa,
também feita no microondas, ficou a cargo da Rita. Finalmente
um jantar minimamente decente. Um dia deste até Cozido à portuguesa
se faz no microondas.
No entretanto o Diogo esteve a contar as aventuras
da noite anterior na Discoteca de Fisherman's Wharf. Mas isso fica
para ele contar se quiser, não que tenha algo de mal, tirando
o preço... mas...
O Diogo mudou para o meu quarto. O alemão
com flatulência pelos vistos tinha saído e o Coreano
também. No entretanto tinha entrado um tipo de Boston, que
estava ali porque trabalhava numa agência de viagens e tinha
uma reunião. Não percebo, como é que um gajo
que trabalha numa agência de viagens vai dormir numa espelunca
daquelas.
Fomos dar uma volta e fomo-nos deitar que no dia
seguinte era dia de trabalho, apesar de ser feriado. Mas era o
dia do Luther King, por isso...
Afinal o alemão contorcionista - faquir -
farposo - e - mal - cheiroso não tinha vazado e o seu cheiro
estava ao melhor... depois de 5 noites sem tomar banho, nem eu
conseguia viver comigo próprio. O tipo de Boston tinha vazado,
sensato!!!
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