C4 TERÇA-FEIRA, 18 DE JANEIRO DE 2000
O Alemão Mal Cheiroso - Fotografia de Rui Gonçalves

Ontem tive que vos deixar à pressa, porque um colega precisava do PC, onde eu ando a vasculhar a rede e como ainda não tenho um para mim e nem um acesso...

Domingo, 16 de Janeiro de 2000

Quando acordei no Domingo, o Jeffrey, o nobre americano pintado de branco, estava possesso com o alemão contorcionista e faquir. Pelo que parece o alemão, para além de se espetar com alfinetes-de-ama, também lava os pés no lavatório onde o americano lava os dentes e além disso larga-se ruidosamente durante a noite. Eu como ando cansado e ocupado, nunca tinha visto tal coisa. O Jeffrey mudou de quarto e fez um reparo na portaria em relação ao alemão farpador e pivetoso.

Eu fui comprar o Marin Independent Journal, para ver os anúncios de quartos, e depois de um Biscuit com Bacon & Eggs no MacDonalds fui ter com os outros contacteantes à sala de convívio e leitura da pousada. Ah! O Mac aqui tem uns pequenos almoços melhores que os almoços.

Estive uma boa meia hora a mandar para o lixo a tralha que sai ao domingo com o jornal, e até nem era um jornal muito importante, porque o San Francisco Examiner até dava dó. Nunca mais digo mal do Expresso. Já perguntei em dois sítios que vendem jornais de todas as nações, mesmo daqueles que ninguém consegue ler, se tem jornais portugueses... mas não vi nenhum.

No entretanto chegou o Tiago, a Joana, o Nuno e a Helena, que tinham vindo de Portugal na noite anterior. O Tiago na sua carrinha alugada pela empresa, servia de choffeur aos colegas. A Helena ficou na pousada e os outros partiram em stress para arranjar uma casa lá para o sul da baia.

Voltei ao jornal e os outros ao trabalho para o ICEP, que eu tenho estado a fazer nas horas de trabalho, que não existe, ainda.

Encontrei um share room em Corte Madera, qualquer coisa como 4kms de Mill Valley. Telefonei e atendeu-me um tipo que devia ser indiano, pelo sotaque. Combinei lá estar às 15h, e estava. Pontualidade nunca ficou mal a ninguém e há que mostrar a estes cães quem é que se sabe portar.

O gajo não só era indiano, como era Sikh do Punjab, há dez anos nos EU. Maravilha. Gentilmente, mandou-me tirar os sapatos, porque a maioria das doenças transmitem-se pelos sapatos. Vai lá um gajo acreditar nestas merdas.

A cozinha era fantástica e limpa. Microondas, fogão e frigorifico. Não me lembro de ver a maquina de lavar a loiça, mas de certeza que tem, apesar de estes gajos nunca comerem em casa e não sujarem loiça. A sala é grande e tem daqueles sofás que uma pessoa se encosta e sai uma coisa debaixo dos pés, tem uma aparelhagem Sony e uma televisão modesta para americano... mas também aquilo era de um Irlandês e vivia lá um indiano e um japonês que no entretanto tinha saído.

O quarto é grande, embora estivesse inundado em Brise para disfarçar o cheiro a caril, de certeza, porque esteve lá o primo do Singh (sim o indiano tem nome!). Tem uma varanda com artefactos de barbecue e uma piscina nas traseiras de uso comum do condomínio, como é normal naquela zona.

O Gerente estava para fora, e fiquei de lhe telefonar para estabelecer o contrato. Ainda não consegui falar com o cão irlandês.

Fui a pé até Mill Valley. Claro, que como conhecedor da zona, fui mesmo pelo caminho mais longo. Mas de certo que era o mais bonito e o dia ajudava porque o tempo não estava muito mau. Subi, até ao topo de um monte e vi SF. Trilhos pedestres por todo o lado e ciclistas a passar... os pássaros a cantar e tudo muito verde. Mas realmente a distancia até que era muita... só ontem é que vi um mapa da zona e vi que realmente eu andei um bocado... mas também faz bem, a quem está sentado o dia todo.

Cheguei à pousada às 19h, e os cromos ainda estavam a trabalhar. Fui ao supermercado Safeway fazer umas compras para o jantar do pessoal. A Mónica impressionada com a visão de um jantar de uma oriental no dia anterior, não queria ouvir falar em coxas de frango e nem sequer em eu cozinhar.

A velha receita de frango, com cerveja e uma sopinha instantânea de cebola. Microondas com o pito e até um japonês queria comer connosco. Disse-lhe que era uma receita muito popular em Portugal e que com Vinho do Porto era uma maravilha. O jap. até lhe brilhavam os olhos e salivava a boca a olhar para os tinhosos dos portugas que nem lhe ofereceram. A massa, também feita no microondas, ficou a cargo da Rita. Finalmente um jantar minimamente decente. Um dia deste até Cozido à portuguesa se faz no microondas.

No entretanto o Diogo esteve a contar as aventuras da noite anterior na Discoteca de Fisherman's Wharf. Mas isso fica para ele contar se quiser, não que tenha algo de mal, tirando o preço... mas...

O Diogo mudou para o meu quarto. O alemão com flatulência pelos vistos tinha saído e o Coreano também. No entretanto tinha entrado um tipo de Boston, que estava ali porque trabalhava numa agência de viagens e tinha uma reunião. Não percebo, como é que um gajo que trabalha numa agência de viagens vai dormir numa espelunca daquelas.

Fomos dar uma volta e fomo-nos deitar que no dia seguinte era dia de trabalho, apesar de ser feriado. Mas era o dia do Luther King, por isso...

Afinal o alemão contorcionista - faquir - farposo - e - mal - cheiroso não tinha vazado e o seu cheiro estava ao melhor... depois de 5 noites sem tomar banho, nem eu conseguia viver comigo próprio. O tipo de Boston tinha vazado, sensato!!!



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