Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2000 (Cont.)
Depois de vos ter escrito ontem, estive aqui no
escritório a acabar um trabalho para o ICEP (o APD, para
quem sabe...), mas não acabei...
No entretanto o meu chefe, Ken Pimentel, disse-me
para eu ficar cá até às 15h porque vinha cá uma
tipa dos Rec. Humanos e queria me apresentar e falar se era possível
a empresa contribuir com alguma coisa para a minha estadia nesta
terra... uma vez que eu até vou trabalhar para eles, a fazer
o que ninguém quer fazer... mais ou menos como todos os
emigrantes portugueses.
Mas, a tipa não veio, o meu chefe não
me disse nada porque estava numa videoconferência e eu acabei
por não ir ao banco abrir a conta... mas sai daqui por volta
das 18h para apanhar o ferry das 7h20m em Sausalito para SF, que
por acaso era o último transporte que eu tinha para a outra
margem, para além dos meus pés que até nem
deviam de aguentar a caminhada e o taxi que não devia de
ser aguentado pela minha carteira... mas ainda consegui chegar
a tempo.
Entrei no ferry, uma caranguejola de três
andares, povoado por uns seres doutro planeta que consistiam, num
condutor que parecia um frigorifico daqueles de duas portas, que
eu nem sei como é que ele cabia na cabina do barco; um marinheiro,
género frigorifico também, mas de uma porta só e
baixinho que rosnava qualquer coisa que eu não percebia
entre duas mascadas; uma loira cobradora que falava pelo nariz,
era feia que nem um bode e calcava umas lindas botas bordeaux por
fora das calças; uma velha que servia no bar do ferry, e
que me perguntou donde é que eu era, e quando eu disse que
era de Portugal, disse-me que não falava português...
era de admirar, ele quase nem inglês fala; depois haviam
mais dois marinheiros que aparentemente eram normais, apesar de
terem uma atitude de Van Damme, com as mãos atrás
das costas e com um ar de maus; haviam ainda mais dois passageiros,
os dois de bicicleta... e um deles não batia bem da caixa
e tinha uma daquelas bicicletas tipo Harley em que se vai quase
deitado com os pés por baixo do guiador... mas chegamos
bem... é o que conta.
E a viagem foi extraordinária... hoje quero
ver se ainda a faço de dia, para comparar, mas também
tenho tanto tempo...
O barco saiu e ao fundo vê-se SF iluminado
pelas luzes das ruas e prédios... fantástico. Passamos à esquerda
de Alcatraz e à direita da Golden Gate... de noite... eu
vinha no último piso sozinho, ao frio, mas a vista compensava
qualquer coisa... qualquer coisa, não... porque a Cláudia
não estava comigo!
Mas é uma viagem a repetir... muitas vezes
pelos vistos, se não arranjar casa depressa tenho que ficar
em SanFran mais uns dias.
Cheguei a SF ainda a tempo de jantar com o pessoal
do Contacto que está na Pousada e que finalmente resolveram
olhar para o placar e ver que eu estava lá.
Comemos uma papa, que por aqui chamam Lasanha. Era
de frango, mas não o vi e era congelada. A pousada tem cozinha
com pratos, copos e talheres.
A Patrícia estava a dormir desde as 19h,
o Diogo tinha acabado de chegar e ainda estava meio zombie com
o jet-lag... mas depois de eu ter lavado a loiça, porque
era o único que era casado e sabia fazê-lo... fomos
dar uma volta antes de dormir, porque era cedo (aqui!) e tínhamos
que regular as horas pelo horário local.
Fomos a uma Brewery (fáb. de cerveja) que
se chama Thursty Bear... e que tem uma aparência engraçada
e nem é muito cara. Uma cerveja $3, qualquer coisa como
600$00 com diferentes sabores. Eu bebi uma tipo Belga, feita com
cascas de laranja... não era má. Mas a Rita bebeu
uma Pilsener que sinceramente era um nojo...
Fomos dormir. Eram 23h. Finalmente consegui falar
português com alguém sem ser eu mesmo... sim tenho
andado a falar comigo, a chamar nomes a estes americanos que devem
ter problemas nasais por falarem pelo nariz. Ah! E há malucos
em toda a parte. Ontem em Market Street andava um chinoca rua a
cima, rua a baixo com um placar a dizer "Empeach Clinton - 12 galáxias
unidas pelos interesses de um universo" ou coisa parecida. E hoje
estavam dois brancos, com placares à frente e trás
a dizer que "a rainha da babilónia introduziu as orgias
de drogas e álcool, junta-te a nos na luta contra ela".
Hoje vou levar a maquina fotográfica e vou
começar a tirar umas fotos... só visto!!!
Quando cheguei ao quarto, o alemão contorcionista
e faquir, já dormia, mas não tinha tomado banho e
as suas lindas cuecas estavam penduradas ao lado da cama, além
de que o cheiro no ar era de tudo menos de rosas.
O Coreano e o americano também estavam no
quarto, mas estavam acordados. O Americano é muito simpático,
mas desconfio que é homo. Hoje esteve a mostrar-me que é descendente
do Rei João IV de Portugal e que indirectamente é ainda
da Casa de Bragança e conhece o D. Duarte... impressionante
o que o tipo sabe sobre a historia de Portugal... mas não
lhe vale de muito. Continua a ser um reles americano, que tem a
mala pintada de branco.
O coreano, foi jantar fora e pagou algo como 9 contos...
estava doente.
Amanha escrevo mais. Estou aqui a ver uma sample
de um produto destes tipos que parece um simulador de voo. Mas
com uma definição que parece mesmo vídeo.
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