TERÇA-FEIRA, 11 DE JANEIRO DE 2000
A vida não tem sido fácil na
terra das oportunidades.
Uma vez chegado e depois de quase 18h de viagem,
eis que chego à empresa e por sorte está cá um
Mexicano que me abre a porta e encontro um empregado que me deixa
depositar a mala com 38kg nas instalações. Isto depois
de uma caixa com 32kg com uma bicicleta, todos os meus sapatos
e alguma roupa ter ficado retida em Londres. Por um lado foi bom,
vieram entregá-la hoje aqui na empresa directamente. Mas
ainda não vi os estragos, só mudei de sapatos...
Já me doíam os pés.
QUARTA-FEIRA, 12 DE JANEIRO DE 2000
Dormi num Motel, em frente à empresa, que
por dez contos me fez voltar ao tempo em que por um BTT dormia
em casas que, desse nome tinham pouco. A dona/empregada indiana
cheirava a caril como eu cheiro a sovaco, agora. O que vale é que
eu gosto de caril e espero que o pessoal aqui goste de sovaco.
Depois de me deitar às 20h locais e acordar às
5h, e ficar na cama até às 8h, à espera que
ficasse de dia (somem 8h de diferença para saberem as horas
em Portugal), levantei-me e fui dar uma volta a ver se conseguia
saber mais alguma coisa acerca da zona. É parecido com Aveiro,
mas em vez da IP5 tem uma auto-estrada com 8 vias e com um trânsito
infernal. Mas tem pássaros e até é mais ou
menos calmo.
Estive na empresa onde fui apresentado a quase toda
a gente e à hora do almoço fui ao centro de Mill
Valley, abrir uma conta bancária. Quem diz que os americanos
são uns tinhosos e querem tudo direitinho deviam de estar
aqui. Hoje vou passar lá para abrir a conta e ainda nem
sequer tenho identificação e morada americanas. Ah!
Vou abrir conta no Wells Fargo, não sei se lembram dos filmes
de Cowboys. Depois dou-vos o número para se quiserem contribuir
com alguma coisa para pagar o tempo que perco a escrever estas
crónicas para vos divertir.
Fui para S. Francisco, para ver se encontrava alguém
com quem jantar e falar um bocado de português. Estes americanos
são uns tristes nem asneiras em português sabem dizer...
mas sabem que Portugal é um sítio bom e barato para
passar férias, já me disseram dois deles.
Fui para a pousada da juventude no centro da cidade.
Não sei como é que numa zona sísmica
como esta se constróem prédios tão altos.
Alguns tem quase 50 andares.
Mas depois de me registar na portaria e subir para
fazer a cama estive a falar um bocado com um coreano do sul que
mal falava inglês mas que estava a estudar em LA. Chamava-se
Yo Kun Chin (ou parecido) mas como os americanos são burros
(e ele não ficava muito atrás) ele normalmente diz,
por aqui, que se chama John.
Depois chegou um americano da costa leste, perto
de Washington D.C. que estava ali para estudar poesia... cabe isto
na cabeça de alguém? Mas vinha da outra pousada da
juventude de SF onde andavam a pintar as paredes e confundiram-no
e pintaram-no também de branco. Casaco, camisa e um saco
estavam bons para o lixo. Mas este americano até que era
mais ou menos esperto, falamos de Moçambique, da Renamo
e de Portugal. De Bacalhau e dos Islandeses.
No entretanto o Coreano saiu para ir jantar com
umas japonesas que conheceu no avião e chegou um tipo que
grunhiu alguma coisa como "qual é a cama vaga", descalçou-se,
passou os pés por agua e ficou à espera empoleirado
nas travessas do beliche que saísse-mos para se deitar.
Ah! Não disse que tinha um alfinete-de-ama espetado na face
direita acima da boca? Pois é. Além disso não
devia de tomar banho há uns dias... e passou a noite a ressonar
e a voltar-se e a fazer o pino na cama. Segundo o americano ele
era alemão, mas ainda não consegui falar com ele.
Fui dar uma volta por Market Street, e voltei para
descansar um bocado antes de ir jantar. Eram 19h e acordei às
22h... nem me levantei, tal era a paulada!
QUINTA-FEIRA, 13 DE JANEIRO DE 2000
Levantei-me às 5h45m e fui ler à espera
que o dia nascesse. Estava um casal de americanos no corredor a
namorar... e foram-se deitar. Perguntaram-me se estava bem, e eu
disse que sim, mas que eram quase 2h da tarde para mim.
Fui comprar bilhetes de autocarro e perdi dois autocarros
seguidos porque os cães dos americanos trocaram as paragens.
No entretanto doíam-me os pés porque os sapatos que
tinha (os outros estavam com a bicicleta, lembram-se?) não
eram os mais indicados.
Consegui chegar à empresa às 10h15m
e estou a escrever isto há bué... tenho uns papéis
para ler sobre as normas de utilização da rede interna
da empresa e depois vou ao banco e telefonar a ver se arranjo casa.
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