QUINTA-FEIRA, 13 DE JANEIRO DE 2000 C1
Gaivota em Sausalito - Fotografia de Rui Gonçalves

TERÇA-FEIRA, 11 DE JANEIRO DE 2000

A vida não tem sido fácil  na terra das oportunidades.

Uma vez chegado e depois de quase 18h de viagem, eis que chego à empresa e por sorte está cá um Mexicano que me abre a porta e encontro um empregado que me deixa depositar a mala com 38kg nas instalações. Isto depois de uma caixa com 32kg com uma bicicleta, todos os meus sapatos e alguma roupa ter ficado retida em Londres. Por um lado foi bom, vieram entregá-la hoje aqui na empresa directamente. Mas ainda não vi os estragos, só mudei de sapatos... Já me doíam os pés.

QUARTA-FEIRA, 12 DE JANEIRO DE 2000

Dormi num Motel, em frente à empresa, que por dez contos me fez voltar ao tempo em que por um BTT dormia em casas que, desse nome tinham pouco. A dona/empregada indiana cheirava a caril como eu cheiro a sovaco, agora. O que vale é que eu gosto de caril e espero que o pessoal aqui goste de sovaco.

Depois de me deitar às 20h locais e acordar às 5h, e ficar na cama até às 8h, à espera que ficasse de dia (somem 8h de diferença para saberem as horas em Portugal), levantei-me e fui dar uma volta a ver se conseguia saber mais alguma coisa acerca da zona. É parecido com Aveiro, mas em vez da IP5 tem uma auto-estrada com 8 vias e com um trânsito infernal. Mas tem pássaros e até é mais ou menos calmo.

Estive na empresa onde fui apresentado a quase toda a gente e à hora do almoço fui ao centro de Mill Valley, abrir uma conta bancária. Quem diz que os americanos são uns tinhosos e querem tudo direitinho deviam de estar aqui. Hoje vou passar lá para abrir a conta e ainda nem sequer tenho identificação e morada americanas. Ah! Vou abrir conta no Wells Fargo, não sei se lembram dos filmes de Cowboys. Depois dou-vos o número para se quiserem contribuir com alguma coisa para pagar o tempo que perco a escrever estas crónicas para vos divertir.

Fui para S. Francisco, para ver se encontrava alguém com quem jantar e falar um bocado de português. Estes americanos são uns tristes nem asneiras em português sabem dizer... mas sabem que Portugal é um sítio bom e barato para passar férias, já me disseram dois deles.

Fui para a pousada da juventude no centro da cidade.

Não sei como é que numa zona sísmica como esta se constróem prédios tão altos. Alguns tem quase 50 andares.

Mas depois de me registar na portaria e subir para fazer a cama estive a falar um bocado com um coreano do sul que mal falava inglês mas que estava a estudar em LA. Chamava-se Yo Kun Chin (ou parecido) mas como os americanos são burros (e ele não ficava muito atrás) ele normalmente diz, por aqui, que se chama John.

Depois chegou um americano da costa leste, perto de Washington D.C. que estava ali para estudar poesia... cabe isto na cabeça de alguém? Mas vinha da outra pousada da juventude de SF onde andavam a pintar as paredes e confundiram-no e pintaram-no também de branco. Casaco, camisa e um saco estavam bons para o lixo. Mas este americano até que era mais ou menos esperto, falamos de Moçambique, da Renamo e de Portugal. De Bacalhau e dos Islandeses.

No entretanto o Coreano saiu para ir jantar com umas japonesas que conheceu no avião e chegou um tipo que grunhiu alguma coisa como "qual é a cama vaga", descalçou-se, passou os pés por agua e ficou à espera empoleirado nas travessas do beliche que saísse-mos para se deitar. Ah! Não disse que tinha um alfinete-de-ama espetado na face direita acima da boca? Pois é. Além disso não devia de tomar banho há uns dias... e passou a noite a ressonar e a voltar-se e a fazer o pino na cama. Segundo o americano ele era alemão, mas ainda não consegui falar com ele.

Fui dar uma volta por Market Street, e voltei para descansar um bocado antes de ir jantar. Eram 19h e acordei às 22h... nem me levantei, tal era a paulada!

QUINTA-FEIRA, 13 DE JANEIRO DE 2000

Levantei-me às 5h45m e fui ler à espera que o dia nascesse. Estava um casal de americanos no corredor a namorar... e foram-se deitar. Perguntaram-me se estava bem, e eu disse que sim, mas que eram quase 2h da tarde para mim.

Fui comprar bilhetes de autocarro e perdi dois autocarros seguidos porque os cães dos americanos trocaram as paragens. No entretanto doíam-me os pés porque os sapatos que tinha (os outros estavam com a bicicleta, lembram-se?) não eram os mais indicados.

Consegui chegar à empresa às 10h15m e estou a escrever isto há bué... tenho uns papéis para ler sobre as normas de utilização da rede interna da empresa e depois vou ao banco e telefonar a ver se arranjo casa.



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