Madeira

Dia VIII - Sexta-Feira - 6/8/99
As levadas e a chuva



 
    Antes da saída de Aveiro já estava combinado uma caminhada nas levadas da Madeira. Se entre os marinheiros houve quem a fizesse no dia anterior, a nós instruendos só nos restava este dia livre na ilha. Depois das aventuras em Porto Santo, eram já muitos os instruendos que se propuseram a ser incluídos nesta nova aventura… o problema era qual das levadas é que iríamos fazer? Se umas eram muito perigosas e não aconselháveis a caminhantes inexperientes, outras eram brincadeiras de criança.

    Assim, dois dos instruendos resolveram fazer algo mais exigente e partiram bem cedo, cerca das 7h00m para o Pico do Areeiro e fazer a ligação até ao Pico Ruivo e daí descer até ao Curral das Freiras de onde retornariam de camioneta, uma vez que a Levada do Curral tinha ficado intransitável no último inverno.

    Os restantes instruendos caminhantes, seguiram o conselho do Tenente Mourinho e tentar a descida do Pico do Areeiro até ao Funchal, uma vez que se apresentava como uma proposta menos exigente, mas apelativa.

Pico do Areiro - Pico Ruivo - Fotografia de Rui Gonçalves
Vinho da Madeira - Fotografia de Rui Gonçalves
    Depois das habituais tarefas de faxina, rumamos ao Funchal, para nos abastecermos de comida e água necessários à caminhada, porém fomos interpelados para uma visita às caves do Vinho da Madeira, que não pudemos recusar. Visitamos as caves e seguimos atentamente as explicações da guia até chegarmos à prova do vinho, em que a atenção pendeu para outro lado – o Vinho.

    Almoçámos e seguimos em dois taxis até ao Pico do Areeiro, por uma estrada digna do Rali do Vinho da Madeira e conduzidos pelo Tommi Mäkinen, mas foi um tipo porreiro por deixar que viajássemos cinco num taxi. 
 

    Chegados ao pico sentimos que estávamos acima das nuvens e que o calor do Funchal tinha ficado por lá.

    Começámos a descer em direcção ao Poço da Neve onde parámos para umas fotografias e onde cometemos o primeiro erro do dia. Descemos em direcção ao vale da Ribeira de Santa Luzia, por uma linha de água em vez de continuarmos a contornar o monte e apanhar a levada mais acima, mas o erro estava feito e ninguém se achou com vontade de voltar a subir. Continuamos pela margem esquerda da ribeira até sermos engolidos pelo nevoeiro e encontrarmos uma levada que seguimos.
 

Poço da Neve - Fotografia de Rui Gonçalves
Na Levada - Fotografia de Henrique Bandarra     Daí para a frente até chegar ao Funchal contamos com a companhia de mais um – o nevoeiro. Se por um lado o nevoeiro ajudou a que sobrasse água no final da jornada, por outro privou-nos de vermos algumas das belezas e dos perigos por onde passámos.

    Para quem queria uma caminhada não muito exigente, o erro cometido logo no início pôs-nos numa levada que em certas partes tinha desmoronado e em que a progressão por vezes tinha de ser feita de gatas e sem olhar para baixo. Mesmo assim, houve alturas de quase pânico que logo eram quebradas com uma anedota, uma piada, uma cantiga ou uma beleza que ainda se conseguisse ver. 
Na Levada - Fotografia de Rui Gonçalves
Fim da Levada do Barreiro - Fotografia de Rui Gonçalves
    Sem ajuda de um mapa credível, sem bússola, nem um conhecimento da área, a nossa única referência era a levada… até que foi preciso tomar uma decisão uma vez que esta bifurcava. Aí tomamos a decisão certa e encontramos o Pico Alto e mais à frente a Levada do Barreiro, que seguimos até ao fim.

   Acabada a levada e já com o barulho do Funchal ao longe e em caminho firme, parámos para tirar umas fotos, como se tivéssemos conseguido engolir a montanha. Mas quem nos engoliu foi a montanha ajudada pelo nevoeiro, e que nos fez percorrer um caminho com cerca de três quilómetros para voltarmos ao sítio onde tínhamos estado antes e que ficava a 500 metros da estrada para o Funchal.
 

    Descemos até ao Monte, onde um bolo do caco, tremoços e uma Coral vieram a calhar, mas onde os cestos de vide estavam já de folga.

   Estava quase na hora de alguns entrarem ao serviço e apanhamos à camioneta que nos levou até ao centro do Funchal. Se em todo o dia passámos por perigos que puseram a nossa saúde à prova, ali dentro da camioneta uma pessoa com problemas cardíacos não teria sobrevivido.

   Enquanto uns ficaram pelas esplanadas do outro lado do porto a começarem a jantar, houve quem tivesse que tomar banho à pressa para se apresentar ao serviço às 20h00m e sem pôr quase nada à boca. Com a tarefa de ajudante de Portaló, que consiste em controlar quem está a bordo ou não do navio, através de umas fichas que são viradas de cada vez que os instruendos saem ou entram, o serviço começou por ter de despejar o contentor do lixo e lavá-lo… acabados de tomar banho e sem ter comido nada. Mas como compensação foi-nos oferecida uma cerveja.

A Ajudante de Portaló - Fotografia de Rui Gonçalves

    Cerca das 23h00m começou a chover e os que não arriscaram sair para as Vespas, refugiaram-se nas cobertas a descansar.



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