46 CRÓNICA O Vespertino de Reading 7 de Novembro de 2004

Primiership

Quando vim para Inglaterra, faz amanhã [Segunda-feira, 8 de Novembro de 2004] três meses, disse que gostaria de ver um jogo da Primeira Liga de Futebol inglesa, num estádio inglês e com o público todo a vibrar. Como se vê na televisão. Não precisava de ser um Arsenal-Chelsea, ou um Chelsea-Manchester United. Podia muito bem ser um jogo entre os dois últimos classificados da tabela.

Fotos do NEC 338 - Fotografias de Rui Gonçalves

Porém isso não aconteceu. Ainda tive a oportunidade de comprar bilhetes para ver o Chelsea-F.C. Porto, mas não era a mesma coisa. Não era um jogo inglês puro e além disso tinha que ir a Londres a meio da semana e voltar. Era uma canseira e eu nem sou do Porto... E, ainda por cima, para ver o Porto perder.

Mas como não pude ir ver um jogo da Primiership de futebol não podia deixar de ir ver um jogo da Primiership de Rugby. E digo-vos acho que só fiz bem.

O jogo foi entre os London Irish, de Middlesex, mas que jogam aqui em Reading, contra os Worcester Warriors, de (imaginem) Worcester, uma cidade ali para os lados de Birmigham, mesmo ao lado da terra do Shakespeare, Stratford-upon-Avon. O sétimo da tabela contra o penúltimo (o último é uma equipa chamada NEC Harlequins, patrocinada pela NEC UK). Mas isso não interessava para os sete mil adeptos que lá estavam, porque era um jogo de rugby. E foi jogado do início ao fim ao contrário dos jogos de futebol que são feitos de muito engonhanço.

Os London Irish (http://www.london-irish.com/), como diz o nome, foi criado por um grupo de irlandeses em Londres. Em Middlesex, uma terra com um nome muito curioso, porém que nada tem a ver com a homossexualidade. Agora jogam no Majeski Stadium aqui em Reading, onde hoje [Domingo, 7 de Novembro de 2004] fomos vê-los a bater o adversário por um expressivo 25-15.

Os London Irish apenas efectuaram um ensaio, sendo 20 dos seus 25 pontos resultado de pontapés de grande penalidade. Um dos London Irish, de seu nome Mark Mapletoft, conseguiu converter todos os pontapés de grande penalidade, em número de 7 (6 vezes 3, mais 2 pontos da penalidade resultante do ensaio), em 7 que marcou. O homem esteve mesmo bem.

Quem não esteve muito bem foi o árbitro ao assinalar a conversão de um ensaio para os Warriors mesmo no final da partida. Depois de ter mandado prosseguir o jogo, voltou atrás e marcou o ensaio e o respectivo pontapé de penalidade, dando 7 pontos aos Warriors mesmo antes de apitar para o término da partida. E o público assobiou-o por isso. Não lhe chamaram nomes como em Portugal, mas assobiaram-no e apuparam bem.

O jogo foi bom, embora a maioria das jogadas acontecessem do outro lado do campo. Nós estávamos mesmo em cima da relva. Tão perto, que o Freddy ainda teve o prazer de tocar na bola e quase matar duas crianças que estavam à nossa frente. Mesmo à nossa frente, também, estava um grande placar vermelho com letras brancas que dizia "É estritamente proibido estar de pé", ao que acrescentava, "Lembre-se dos dificientes". Não percebi se era proibido estar de pé para os deficientes poderem ver o jogo (estavam no cimo da fila) ou se nos transformavam em deficientes se nos puséssemos de pé. Preferi não tirar as dúvidas e fui buscar uma Guinness.

Como verdadeiros irlandeses a Guinness é o patrocinador oficial. E no estádio vende-se cerveja em todos os bares e andam uns jovens com um barril às costas e uma mangueira que enchem uma pint de Guinness por £3.20. Claro que quem bebe cerveja precisa de ir ao quarto-de-banho, mas ali tornou-se um problema. E ali percebi porque é que estes tipos conseguem urinar em qualquer lado. Imaginem querer urinar num urinol com mais de 5 metros de comprimento, onde está uma dezena de homens e atrás de vocês e de cada um desses dez, está uma fila com três homens à espera para urinar. Eu não consegui! Tive que voltar mais tarde!

Mas pronto foi uma tarde bem passada e mais um momento que não me vou esquecer. E lá fora continua o fogo de artifício.

Standing Strictly Prohibited - Fotografia de Rui Gonçalves Cadeiras do Estádio - Fotografia de Rui Gonçalves


Índice: Capa
Próxima Crónica: Crónica 47