Porém é num país ameaçado por várias fontes de terrorismo (Islão e
Irlanda) e com um sistema de vigilância sempre activo que acontecem
as maiores falhas de segurança dignas de um país, como se costuma
dizer, de terceiro mundo. Na mesma semana um homem vestido de Batman
consegue entrar no palácio de Buckingham e um grupo de jovens
consegue entrar na Câmara dos Comuns e semear a desordem. Duas
instituições cruciais do sistema regente britânico.
O Batman Gay (segundo foi noticiado) conseguiu inclusive ficar várias
horas na fachada do edifício dando publicidade a uma causa (Fathers 4
Justice) que pretende dar mais importância aos pais na educação dos
seus filhos (em casais separados). O Robin foi preso antes de
conseguir entrar, mas conseguiu ajudar o Batman a fazê-lo. E o mais
ridículo é que a polícia demorou horas a persuadi-lo a descer, dando-
lhe sumos de fruta para ele se aguentar e não cair. Isto depois de
ter deixado passar pelo sistema de segurança do Palácio de
Buckingham, onde vive a família real, um homem vestido de Batman.
Como se um tipo vestido de Batman fosse a coisa mais normal no
palácio de Buckingham numa segunda-feira [13 de Setembro de 2004] à
tarde, quando no sábado [11 de Setembro de 2004] anterior um homem
vestido de Homem-Aranha fez a mesma coisa no London Eye (aquela roda
gigante feita para a passagem do milénio).
O caso dos oito jovens (entre eles o filho do cantor Bryan Ferry e
dois amigos do Príncipe de Gales) que entraram na Câmara dos Comuns
reveste-se ainda de pormenores se calhar ainda mais graves, porque,
leva a crer que, foram ajudados pela própria segurança. Isto em
protesto contra a suposta abolição, por parte do governo, da
tradicional caça à raposa com recurso a cães.
Ou seja, ou os seguranças já se sentam à sombra da bananeira, porque
acham que está tudo sobre controlo ou afinal nada está, mesmo, sobre
controlo. O país mais vigiado do mundo (Sim! Ainda mais que os EUA)
está a saque. Já se fala em rever completamente os sistemas de
segurança, como se falou do mesmo nos Estados Unidos após o 11 de
Setembro. Se bem conheço os ingleses isso vai demorar alguns e largos
anos a fazer um estudo e a pô-lo em prática.
Mas mudando de assunto, mas continuando na segurança, esta segunda-
feira também, aqui em Reading um homem foi morto à pancada e ainda
não se encontraram os responsáveis. Acho que já prenderam uns dois ou
três homens, mas a polícia continua à procura de testemunhas.
Aparentemente o homem foi encontrado inconsciente numa caixa
multibanco mas, já no hospital, não resistiu aos ferimentos, sofridos
na cabeça. Tudo, aparentemente, por causa de uma discussão à porta de
um bar. Típico inglês, mas desta feita com um final trágico.
Mas na verdade ainda não senti nenhum problema desde que cá estou,
apesar de achar que certas zonas de Reading não são muito
aconselháveis, como em qualquer cidade com cerca de 150 mil
habitantes, rodeada de outras cidades quase tão grandes e todas
satélites de uma cidade, como Londres, com alguns 7 milhões de
habitantes.
Reading é assim o meio termo entre a grande cidade e o campo. Há
esquilos em pleno centro da cidade, a par com prédios. E dá para ver
bem o campo cada vez que se sai da cidade e se mergulha nas
redondezas. Como esta quarta-feira [15 de Setembro de 2004] que fui
de novo andar de bicicleta e de novo para Whitchurch-On-Thames, que é
uma típica aldeia inglesa junto ao Tamisa a menos de 10 minutos do
centro de Reading.
A volta nem foi nada de especial. Os dias começam a ficar mais curtos
e os caminhos já começam a ter lama (ou não estivéssemos em
Inglaterra), pelo que já se acaba de noite e molhados, o que torna
tudo mais desagradável. Mas foi bom! Desta vez já tinha os meus
calções almofadados, capacete, luvas e as sapatilhas (SPD), tudo
trazido pela Cláudia, que chegou na terça [14 de Setembro de 2004], e
o capacete que foi gentilmente cedido pelo Freddy. A bicicleta e os
pedais automáticos continuam a ser propriedade do Phil Baker.
Começámos junto a um pub, perto de Cray's Pond (A Poça do Cray), de
seu nome Red Lion, no topo do monte mais alto que fizemos na semana
passada. Assim, começámos a descer... O que implica acabar a subir, o
que eu acho que não é muito aconselhável, depois de 30 quilómetros.
Aqui os caminhos alternam entre floresta cerrada e campo aberto, pelo
que o choque de luz é enorme, passando instantaneamente do breu ao
sol contra, já a pôr-se no horizonte. Os caminhos são na maioria de
pé-posto e bem preservados, porque há muita gente a usá-los quer a
pé, quer de bicicleta ou para fazer deslocar o gado. Em Portugal, os
presidentes da junta de freguesia já tinham na certa alargado a
maioria dos caminhos e alcatroado, por causa das eleições autárquicas.
Mas a volta desta semana ficou marcada pelo voo descontrolado, sobre
a barra de guiador, da Julie Teasdale. Não contente com as emoções de
uma descida em mato cerrado, resolveu não levar muito a sério os
conselhos do Phil e entrou num caminho com regos fundos longitudinais
mais rápido que devia. Ninguém viu o tombo, mas quando ela chegou
junto de nós foi fácil ver os estragos sofridos. Um dos joelhos
estava mesmo mal tratado, mas com um bocado de água a coisa ficou
melhor. Nada de grave. Porém isso fez com que não fizéssemos parte do
caminho e voltássemos por estrada, o que é sempre mais seca. Como
alguém disse "Depends how you feel, Baker" (Phil Baker, perceberam?).
No fim como de costume, uma pint no pub. Desta vez o Alex Greenhalgh
não foi, porque estava de férias, mas na sua vez foi o Zoltan Finta,
um húngaro, que ainda pode tornar-se num bom anfitrião em Budapeste,
onde tem uma casa.
Quando cheguei a casa estava quase na hora de ir buscar a Cláudia,
que foi à aula de Iyengar Yoga da Mary Niker. O sorriso dela e a
vontade de fazer mais, à saída da aula, pôs-me com inveja. Eu queria
mesmo era dormir. Estava estoirado e ela estava entusiasmada. Acho
que para a semana que vem vou preferir ir à aula de Yoga. Se na
semana passada disse que uma volta de bicicleta é melhor que meia-
hora de meditação (levei um raspanete da minha Guru), esta semana
fiquei com a sensação que uma hora e meia de Yoga é melhor que duas
de bicicleta. Se virmos bem, ambas estão correctas, porque se uma
volta de bicicleta equivale a meia-hora de meditação, uma hora e meia
de yoga deve equivaler a três voltas de bicicleta. Eh! Ambas são
boas...
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