Desde miúdo que me fascinou a Jugoslávia.
Fascinava-me como um país comunista e não alinhado, a leste
da Europa, englobava tantas culturas e tantas religiões no
seu seio. Era o sonho da coexistência pacífica da diversidade
da raça humana.
O sonho desvaneceu-se uns meses antes de começar
uma semi-planeada viajem aos balcãs, à boleia, com um colega
da Universidade. Foi-se, quando estoirou a guerra na Croácia,
seguida da guerra na Bósnia e no Kosovo. As imagens do conflito
que opunham irmãos, que tantos anos viveram em paz, entrava-nos
pela televisão todos os dias. As imagens vinham dali do lado,
da Europa.
De todos os países que saíram da ex-Jugoslávia,
a Croácia era aquele que sempre mais me cativou para visitar.
Geograficamente e geologicamente achava-o mais apelativo e
facto de ter a maior extensão de costa (mediterrânea) de todos
tornava-o o mais interessante. Além disso fascinava-me como
um país ali ao lado da Itália conseguia rivalizar com ela em
ruínas romanas (o circo de Pula) e em beleza cultural (Dubrovnik).
Depois de ter estado 10 dias a passear na Croácia,
desde Zagreb, no interior norte, até Dubrovnik, na costa ao
sul, vejo o quanto a diversidade pode ser usada para criar ódios
e o quanto estava errado quanto à união pacífica destes povos
eslavos do sul (para quem não sabe Jugoslávia quer dizer Eslavos
do Sul em servo-croata). Tito sempre e pareceu um unificador,
mas vejo agora que só o foi com uso da força.
Acho que foi o que mais aprendi nestas férias
na Croácia. E o que mais me vou recordar delas. Não vou conseguir
recordar os nomes dos sítios (como Pelješac, Plitvicka, Krka
ou Orebic) porque na maioria das vezes roçam o impronunciável,
mas vou concerteza lembrar as imagens que vi de casas com rajadas
de metralhadora na fachada, incendiadas e abandonadas. Em aldeias
com 10 casas viam-se casas, que eventualmente foram de sérvios,
completamente destruídas.
Também me vou recordar de Mostar, na Bósnia-Herzogovina
e da frase que lá estava escrita numa pedra "Don't Forget" e
que pode ser interpretada de duas maneiras, olhando para a
destruição em volta do bairro muçulmano e para as campas com
a data de 1993 que existem nos vários cemitérios junto às mesquitas,
como uma frase de revolta ou como uma frase de promessa de
vingança. Prefiro pensar que será a primeira, mas atendendo à situação
actual do país parece-me que os problemas ainda não acabaram
por ali.
Mas a Croácia é muito mais que um país que sofreu
uma guerra há 10 anos (as comemorações estavam a acontecer). É um
país que tem 5 milhões de habitantes e que no verão triplica
a população. É um país que recebe visitantes de todos os países
europeus, desde a Inglaterra a oeste (não vi irlandeses) até à Moldávia
a leste, e desde a Estónia a norte até à Albânia a sul. Só não
vi Romenos e Gregos, e de alguns dos países da ex-URSS cujo
nome nunca sabemos. Estava lá toda a gente... E aos montes!
Basicamente fizemos 2150kms em 10 dias. Andámos
um dia de barco pelas ilhas Kornati e isso fez-nos ver que
a melhor maneira de gozar aquele mar é mesmo estando a flutuar
sobre ele. As praias são pequenas. Poucas vezes têm mais de
2 metros de comprimento e são raras aquelas que atingem os
100m de largura. Agora imaginem que nessas praias estão algumas
largas dezenas de pessoas amontoadas, de colchão e sapatos
de borracha. Sim! Porque não há areia (o grão de areia mais
fino que vi, aqui em Portugal serve para apanhar pássaros)
e porque no fundo rochoso há ouriços. E até há praias de cimento...
Mas o mar compensa tudo. Azul, transparente
e quente. Apetece mergulhar logo... Não fosse o "Ui! Ai!" de
ter que se caminhar naquela "areia". Aquele mar aqui na Costa
Nova e ninguém me conseguia mais ver em casa. Por isso ando
já a tratar de tirar a Carta de Marinheiro, para que da próxima
possa alugar um veleiro e passear pelas belas águas do mediterrâneo.
Não venho desiludido com a Croácia. Venho cheio
de histórias para contar, como a do empregado de uma loja de
sandes de Zagreb que reconheceu-nos como portugueses, apesar
de não perceber uma palavra do que dizíamos, mas porque era
fã da Madredeus e da Mariza. Ou das trovoadas que apanhámos,
algumas dignas de furacões ou mesmo das cascatas de Plitvice
cuja água caia por todo lado e até do céu. Esperava mais!
Esperava um país mais a leste (que só encontrei
na Bósnia), mais diferente e menos explorado. Mas vim cheio
de vontade de partir outra vez... Para mais longe! Mais longe
física e culturalmente. Onde o choque seja maior mas mais enriquecedor.
Onde sejamos estranhos e não mais uns turistas. Onde possa
conviver mais com a população em vez de esperar horas para
meter gasolina.
Para o ano há mais!
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