QUINTA-FEIRA, 06 DE NOVEMBRO DE 2003 L6

Supergrass
Amoeba Records, 24 de Maio de 2000

 

Quando cheguei à Amoeba eram 18h05m. Tinha combinado encontrar-me lá com o Nuno, mas ele enviou-me um mail antes de eu sair a dizer que se calhar ia chegar atrasado e eu como já sei destas coisas fui entrando. A sala estava bem mais cheia que o costume. Havia gente do lado esquerdo da área de compras quase entre todos os expositores de CDs. Davam-se as últimas afinações no som e eu procurava ver se o Nuno estava entre as pessoas que entravam na loja e que engrossavam a assistência, mas era difícil ver alguma coisa. Eu por aqui ainda sou mais pequeno que em Portugal... Relativamente!

A dada altura comecei a prestar atenção aos seres que me rodeavam. Ao fundo do expositor à minha direita estava um grupo de japoneses com o cabelo esticado e pintado e vestidos como só os japoneses se vestem. Cerca de 95% dos japoneses nos Estados Unidos pintam o cabelo e vestem-se de uma maneira irreverente.

Gaz - Fotografia de Origem Desconhecida

É típico! Um deles perguntou-me, mal entrei e fiquei perto dele, se podia tirar fotografias. Como se eu soubesse. Mas, disse-lhe que em princípio sim, porque via tanta gente de máquina em punho. Ficou entusiasmadíssimo e quase atirou ao ar os CD-Singles dos Supergrass que trazia na mão para serem autografados.

Perto de mim estava um dos últimos fãs dos Smiths e Morrissey, que ainda não perdeu a vontade de se vestir como só eles se sabem vestir. Já nem o Morrissey se veste assim... Mas está quase tão gordo como ele. Os óculos da segurança social britânica e o corte de cabelo a simular a palinha, as calças arregaçadas e um cinto grosso... Estava quase perfeito, não fosse a barriga não deixar ver a fivela.

No entretanto chegaram duas tipas que à primeira vista pareciam interessantes. Estavam com um tipo magricela e careca, com quase dois metros de altura e que ainda achava que a dark age eram os nossos dias. Elas pareciam tiradas de um disco dos Cramps e uma delas ostentava na zona do decote, acima do peito, uma tatuagem a toda a largura do mesmo, em forma de umas asas semi azuis e com uns desenhos algo góticos. Era impossível não reparar no decote dela e não lhe olhar para o peito, mas assim que se levantava a cabeça e se olhava para a cara dela... Aí! Sim, perdia-se a vontade de apreciar o conteúdo. Não que fosse muito má, mas tinha um ar nojento... Mas de qualquer maneira, era lésbica e não disfarçava nada. Mas aqui também ninguém disfarça nada.

Depois haviam dois ou três tipos vestidos de negro e com um despenteado tipicamente britânico e algumas tipas também virtualmente despenteadas, mas que deviam ter deixado uma nota preta no cabeleireiro para as despentearem tão bem.

No entretanto acordei da minha introspecção com um respirar nas minhas costas. O Nuno tinha chegado no entretanto e estava a querer armar uma brincadeira. Eram já quase 6h20m.

No entretanto, entraram os Supergrass. Ou parte deles, porque apenas entraram o guitarrista/vocalista e o baixista, sem baterista. O pessoal começou aos berros, como é costume nos concertos por aqui: A normal histeria americana!

E começaram a tocar em formato acústico. Fantástico! Não só estava a ver realmente os Supergrass ao vivo e de borla, como os estava a ver num formato que não é nada normal, uma vez que são uma banda bastante eléctrica. Eu não conheço muito bem os Supergrass, pelo que não sei bem os temas que tocaram, mas as coisas animaram um bocado e na segunda música já se via pessoal a mexer-se e a bater o pé, o que é fantástico numa actuação sem bateria nem baixo (o baixista também estava a tocar viola).

Ao fim da terceira música, os músicos levantaram-se e agradeceram os aplausos, anunciaram que haveria uma sessão de autógrafo e foram-se embora. Ou seja, estive 15 minutos à espera de que afinassem o som e mais 15 minutos a ver um concerto acústico dos Supergrass... Que mais se pode exigir pelo preço do bilhete? Nada!



Com.Certos: Página L1 Col. 1