TERÇA-FEIRA, 09 DE DEZEMBRO DE 2003 L10

The Dandy Warhols
The Great American Music Hall, 3 de Agosto de 2000

 

Entrámos na sala e à entrada ofereciam tampões para os ouvidos, como já é normal. A Cláudia começou a gozar com o tipo a perguntar porque é que usavam aquilo. Porque se calhar até põem o som mais alto, só porque metade do público está de tampões nos ouvidos. O tipo aconselhou a levar os tampões porque supostamente os Dandy Warhols eram barulhentos... Defina barulho!

Demos uma volta pela sala enquanto a banda que fazia a primeira parte começava a sua actuação. Eu já descrevi a sala, aquando do concerto dos Eels, mas, na altura não tinha subido ao primeiro andar. Este, é apenas um corredor de cada lado da sala, com cadeiras e mesas, onde o pessoal come e bebe enquanto vê o concerto.

The Dandy Warhols - Fotografia de Origem Desconhecida

Aliás, a vista para o palco era das melhores. Dali conseguíamos ver a banda perfeitamente. É, que como o palco está muito próximo do público, tem de ser muito baixo e depois, da plateia, só se vê a banda da cintura para cima, por causa das cabeças dos espectadores à nossa frente.

A banda era formada por quatro tipos. O vocalista e guitarrista era parecido com o Garfunkel, loiro e careca, mas, com um colar havaiano. O teclista era um tipo relativamente normal se comparado com os outros. O baterista não existia. Com um penteado algures entre os Jesus and Mary Chain e os Boney M, com suíças até ao pescoço. O outro, que tocava um instrumento que produz uns sons esquisitos, que os Blur usam no M.O.R., estava de chinelos e usava uma cabeleira loira à surfista. A música roçava a dos Dandy Warhols... Pensei eu, antes destes últimos começarem a tocar. Porque depois vi que não tinha nada a ver! Aliás porque conhecia muito pouco dos Dandy Warhols.

The Dandy Warhols - Fotografia de Origem Desconhecida

No intervalo aproveitei para ir à casa de banho, que ficava no primeiro andar ou no mezanino, como quiserem. E aí, vi uma das formas de publicidade mais estranha que já tinha visto. A rede no mictório mudava de cor com o calor da urina e aparecia escrito "Live 105", o nome da rádio que patrocinava o concerto e que já tinha oferecido os lindos tampões para os ouvidos, logo à entrada. Fiquei deveras impressionado, parecia que queriam dizer que a radio era urino-orientada. Uma publicidade muito boa, mesmo!

Os Dandy Warhols entraram em palco por detrás de uma cortina de fumo. O vocalista, que é mesmo grande estava com uma linda t-shirt preta, toda rota. O guitarrista também envergava uma t-shirt preta com umas grandes letras brancas que dizia PUNK e que brilhava no escuro. Se calhar era ele mesmo, o Punk. O trompetista/guitarrista e tocador de batuques e a tipa estavam ambos de chapéu à cowboy. Ela como verdadeira americana usava uma t-shirt apertada que abanava verticalmente quando dançava ou tocava maracas, para delicia dos mais famintos espectadores. Embora, precisasse de perder alguns quilos.

Por detrás deles estava um écran onde eram projectadas imagens sem nexo nem sequência aparente, mas, fiquei surpreendido quando aqueles meninos americanos projectaram mamilos. Sim! Imagens de nudez num sítio público? Afinal a América está a mudar.

Mas, está mesmo, porque a meio do concerto umas tipas perguntaram-nos se nos importávamos que elas fumasse ali dentro. Bem, a sala estava cheia de gente e eu é que me ia importar? Se havia quem se importasse eram os donos do bar, uma vez que é proibido. Mas, elas eram de New Jersey e lá pode-se fumar. Estavam-se a marimbar para as leis da Califórnia, estavam era preocupadas se nós, vizinhos directos delas nos importávamos. Lá fumaram...

Que falar da música dos Dandy Warhols? Confesso que apenas conhecia um tema dos tipos e que fui ali para tentar conhecer algo mais, além de que queria mostrar à Cláudia, a sala e um bocado do mundo da música ao vivo de São Francisco e porque achava a banda divertida. O único tema que conhecia era o "Not If you Were The Last Junkie On Earth (Heroin Is So Passé)" cujo título diz tudo acerca do gozo que eles querem transmitir. Mas, eles nem sequer tocaram esse tema.

O concerto centrou-se à volta do último álbum, que me pareceu algo monótono, apesar de ter alguns temas bastante mexidos e melodiosos. O que importa é que nos divertimos e dançamos quase o concerto todo.

A meio do concerto a banda saiu do palco, ficando apenas o vocalista acompanhado por uma guitarra acústica e cantou uma versão de um tema da Katrin Hersh, que em tempos pertenceu às Throwing Muses. O tema a princípio era imperceptível tal era a distorção do som, mas o refrão era inconfundível. Essa parte, que no original é cantado pelo Michael Stipe dos REM, repete-se até ao final dizendo "I think last night you were

The Dandy Warhols - Fotografia de Origem Desconhecida

driving cyrcles around me", como se de um círculo infinito se tratasse. Chama-se "Your Ghost" se quiserem procurar e é um tema muito bonito e foi muito bonito vê-lo ali a ser tocado.

A dada altura um tipo que estava atrás de mim, ao ver-me a cantar, perguntou-me se era um tema do último álbum. Lá lhe expliquei a origem do tema e as razões que me lavaram a estar ali, uma vez que só conhecia um tema da banda. Ele compreendeu porque também ele só estava ali porque não tinha nada mais que fazer e não lhe apeteceu estar em casa. E, como o ambiente do bar é porreiro e o bilhete barato ($10).

Logo de seguida, e para provar que aquilo não eram só baladas e música pop, atacaram, já com a banda toda em palco, com uma musica muito parecida ou uma versão muito alterada do Drug Train dos The Cramps. Não deu para perceber bem por causa da distorção que pautou durante todo o concerto. Não sei se de propósito ou devido a alguma deficiência técnica, mas, o som esteve um bocado fanhoso.

À saída do bar, e como de costume, deram-nos uns panfletos promocionais de uma série de bares, concertos e bandas. E, para novidade deram-nos um par de cassete de uma banda chamada Palo Alto e que seria a nossa banda sonora das férias.



Com.Certos: Página L1 Col. 1