Domingo, 4 de Junho de 2000
Acordei por volta das 9h, arrumei tudo e fui para
Corte Madera, sem ver viva alma em casa da RM&P. Não
sei o que me deu, mas sinceramente acho que só perdi tempo
a ir a São Francisco dormir... Gostei da companhia, mas
tinha tanta coisa para fazer e ainda estava em stress por causa
da semana que se avizinhava.
Cheguei a casa tomei o pequeno almoço e o
café, enquanto preparava as coisas para ir trabalhar para
a varanda. Sentei-me na varanda com os pés num banco e refastelado
no cadeirão, com o portátil ao colo e com uma músiquinha
de fundo. Comecei a escrever umas crónicas para desanuviar
antes de meter mãos ao trabalho temático que tenho
que realizar para o ICEP, que é sobre o Turismo Ecológico.
O tema foi escolhido por nós, os membros do meu grupo temático
e, como é um tipo de turismo que estou especializado em
praticar, até me interessa. Mas não estava com pachorra,
para estar a escrever quais os benefícios provenientes e
os investimentos necessários realizar, nesse tipo de turismo.
Na varanda do outro lado do complexo de apartamentos
onde vivo, realizava-se uma festa em casa de uns brasileiros. Eles
não sabiam que havia ali quem os percebia e falavam alto.
Não diziam nada de especial, mas de vez em quando lá saltava
uma asneira da grossa... E eu ria-me sozinho...
No entretanto o Singh tentava pôr o seu portátil
a ligar à Internet. Eu não sei que tipo de PC é aquele
e qual o hardware que ele tem, mas acho que instalar o Win98 sem
saber muito bem o que se está a fazer pode trazer efeitos
nefastos paralelos, como o de não se conseguir ligar à Internet.
Eu bem que tentei fazer alguma coisa, mas as drives do modem não
existiam e como ele nunca sabe o que faz ao software depois de
instalado, tornava as coisas ainda mais difíceis... A verdade é que
era melhor ver o James Bond que estava a passar na televisão
e ele desligou o portátil e foi para o quarto.
Eu almocei e fiquei a tarde toda na varanda a responder
ao correio electrónico que tinha pendente, escrever umas
crónicas e a actualizar o meu Curriculum Vitae, com as últimas
competências adquiridas em terras de Uncle Sam... Se alguém
estiver interessado num trabalhador experiente e dedicado é favor
pedir uma cópia para ruigo@zerozeronet.com.
Estou disponível para receber propostas de trabalho.
Segunda-feira, 5 de Junho de 2000
Cheguei cedo ao escritório pois queria agarrar
o touro pelos cornos o mais cedo possível. Também,
tinha uma conferência telefónica marcada para as 9h
da manhã e assim que cheguei fui direito ao gabinete do
Ken... Que ainda não tinha chegado. Depois sou eu que chego
tarde...
Fui tomar o café e pousar as minhas coisas
no meu gabinete, e de repente aparece o Ken a correr para ir para
a conferência... Ok! Estava à tua espera!
Uns israelitas, um americano, o chefe do Ken no
quartel-general da EAI e nós os dois ali em Mill Valley.
Conversa da treta!!! A verdade é que estava tudo acertado
e os próprios israelitas não sabiam bem qual a definição
do sistema que iam mostrar... Fiquei mais descansado, afinal não
estávamos tão atrasados como pensava... Havia quem
estivesse pior e tinha mais interesse na exibição
do que a EAI.
Fui para a sala de exibição, onde
está a melhor máquina do escritório - a Vegas
- um sistema Onyx2 da Silicon Graphics com 4 processadores e uma
quantidade de memória que eu nem consigo imaginar e que
está ligada a um sistema de visualização composto
por três monitores planos com 1mx1,5m cada, o que dá um écran
com 1mx4,5m e um sistema composto por 12 detectores de presença
que por enquadramento consegue determinar a presença e os
movimentos do espectador e que se chama Flock of birds... Mas eu
só estava ali para utilizar a máquina e para poder
estar afastado da confusão, para conseguir fazer alguma
coisa rapidamente.
Comecei por tentar abrir a apresentação
que eu e o Ken começámos a fazer na sexta. Nada!
Deva erro... Ok! Começar do zero? Fui perguntar ao
Ken, como é que era possível ter feito aquilo na
sexta e na segunda já não funcionava. Segundo o Mike,
a versão do VisConcept tinha mudado... Tudo estava mal em
Queluz Ocidental, diria o nosso amigo Lello Marmelo!
Arranjou-se a versão anterior e voltei a
tentar abrir a tal apresentação e consegui... Mas
a do Ken donde era suposto eu copiar algumas coisas é que
nem por isso... Novamente chatear a equipa de desenvolvimento e
arranjaram-me outra versão...
Com estas e com outras tinha perdido toda a manhã e
já tinha passado a hora do almoço. Fui comer qualquer
coisa e tomar outro café, porque estava a adormecer em frente
ao monitor.
Passei o resto da tarde a gravar as pequenas mudanças
que fazia na apresentação com diferentes nomes e
a sair e entrar na aplicação, porque cada vez que
simulava uma apresentação perdia a composição
da mesma e só a conseguia recuperar se saísse e voltasse
a entrar, a velha técnica dos engenheiros de software. Se
imaginarem que o VisConcept demora cerca de 2 minutos a abrir,
a minha apresentação mais 2 minutos a carregar e
a apresentação do Ken cerca de 5 minutos, podem ver
o tempo que eu realmente trabalhei... A taxa de produtividade rondava
os 40%...
Devem imaginar o meu estado de nervos às
7h da tarde quando decidi que não conseguia mais olhar aquele
monitor e ir para casa...
Ainda falei com a Mary-Ann porque tinha lhe dito
que fazia uns testes no World Up, mas com aqueles contratempos
todos ia ser difícil. Ela ficou triste e preocupada, porque
o produto era suposto ser enviado aos clientes esta semana e sem
os testes de utilização, podia significar um insucesso...
Bem, na verdade havia outra tipa contratada para fazer testes,
mas se eu não fiz testes porque não tinha tempo,
ela não os fez porque não fazia nada para além
de navegar na Internet e falar ao telemóvel.
Eu não sei o nome dela, mas sei que era amiga
da Christina e que foi contratada por uma semana para fazer os
tais testes de utilização ao World Up. Mas, antes
de ir falar com a Mary-Ann, entrei no gabinete onde ela estava
e decidi ver os apontamentos que ela tinha tomado acerca dos testes
e vi que ela tinha feito ainda menos do que eu. Eu apesar de estar
a fazer duas coisas ao mesmo tempo, tinha percorrido o tutorial
1 e 2, onde era ensinado a usar a ferramenta para construir um
modelo 3D de um carro de uma maneira tão simples, que eu
fiz aquilo em duas horas de almoço... E ela só tinha
feito o tutorial 1, coisa que uma criança conseguia fazer
numa tarde e ela já lá estava há três
dias.
Claro que fiquei pior que podre... Eu trabalho de
borla e a EAI sempre me recusou qualquer ajuda e contrata uma tipa
durante uma semana, se calhar a ganhar mais do que o ICEP me paga
e a tipa navega na Internet... Enquanto eu me esfolo para cumprir
o que me é pedido. Há pessoas sem qualquer noção
de responsabilidade e há-os muitos por aqui. É só facilidades,
e falta de interesses... Ou será também falta de
capacidades?
Fui para casa, bebi duas cervejinhas ao jantar,
liguei a televisão e vi o Star Treck e os Simpsons antes
de ir dormir.
Terça-feira, 6 de Junho de 2000
Não há muito para contar acerca da
Terça-feira, porque passei o dia a construir cenas para
a apresentação, gravar cada mudança com diferentes
nomes e a sair e entrar na aplicação... Um verdadeiro
massacre cerebral, apenas compensado pelo facto de que sob stress
a aprendizagem sobre a aplicação era muito superior
e ao fim da tarde estava-me a sentir um verdadeiro mestre a construir
comportamentos sobre modelos 3D de toda a espécie.
A meio da tarde ainda parei para dar uma de conversa
com o Srikumar acerca da língua espanhola e para apertar
a folga no movimento pedaleiro da bicicleta do Jesse... Esse também
estava a entrar em stress... Ele está a trabalhar para o
World Up e esta semana era decisiva para o sucesso do produto.
Aliás, a dada altura mandou-me passear com maus modos, mas
eu já nem ligo... E ele veio-me pedir desculpa.
Voltei a sair tarde. Mas não me importo de
o fazer, porque não tenho nada mais para fazer e quando
o trabalho é um desafio eu não me deixo derrotar
facilmente. Têm a certeza que não precisam de um empregado?
Quarta-feira, 7 de Junho de 2000
Voltei a ir para o escritório no bólide
e a Vaynessa nem me viu desde o início da semana... Coitada!
Eu compenso-a quando o volume de trabalho diminuir e como o tempo
começa a aquecer, até é mais agradável
ir na minha montada para o trabalho à beira baía.
No fim do dia voltei para casa mais cedo do que
tem sido normal, porque queria lavar roupa e como pensava dar um
salto a São Francisco antes do fim-de-semana, receava não
ter tempo para o fazer antes de ir para Los Angeles e não
tinha roupa para levar.
Falava eu em o tempo aquecer? Pois bem, começou
a chover quando cheguei a casa e levantou-se um cheirinho a terra
molhada que me trouxe umas saudades enormes de Foz Côa. É um
cheiro reconfortante e traz uma calma que só em sítios
como o interior de Portugal se pode apreciar verdadeiramente o
seu significado... Mas não tive muito tempo para o apreciar,
porque entre duas máquinas de roupa e secar tudo, levou
cerca de 2h30m... E depois veio o jantar e cama.
Quinta-feira, 8 de Junho de 2000
Acordei às 6h30m, uma hora mais cedo do que é normal,
levantei-me tomei banho, fiz a barba e vesti-me. Saí de
casa e estava a choviscar... Eu estava de sandálias... Mas
o que é que isso interessava? Estava nos Estados Unidos
e podia calçar o que eu quisesse que ninguém ia reparar
nem dizer nada e além disso dentro do escritório
não chove. Senti-me um verdadeiro americano de sandálias
e a chover...
Cheguei ao escritório antes das 8h30m. Acho
que nunca tinha chegado tão cedo.
Meti-me na sala de demonstrações numa
luta desenfreada com a Vegas e o VisConcept. Consegui acabar quase
tudo cerca das 5h... Só faltava uma cena que tinha receio
se tornasse uma coisa difícil de fazer e fui pedir ajuda
ao Ken...
Pois bem, o Ken começou a construir a cena
que consistia em fazer mudar as jantes de um BMW 325i Cabriolet,
de modo a poder-se visualizar o carro com diferentes opções
de jantes... Tudo bem! O Ken foi-se embora cerca das 6h e eu fiquei
ali a acabar a cena...
Gravei, sai e voltei a entrar na aplicação
e o BMW tinha perdido um pneu... Sim! Vocês não estão
a imaginar o que é um modelo 3D de um BMW ser gravado e
ficar sem um PNEU! Um PNEU! Uma porra de um PNEU...
Como a aplicação é muito flexível
as únicas hipóteses eram: voltar a construir a cena
toda ou voltar a inserir um pneu e colocá-lo no sítio
do mesmo tamanho e tudo e rezar para que a aplicação
não crashasse. Optei pela segunda hipótese... E a
aplicação crashou... E não abria a última
gravação que tinha feito da apresentação.
O que vale é que haviam 312345 outras anteriores... E lá consegui
começar a construir a cena de novo.
Às 10h da noite o Ben veio-me pedir boleia
para casa. Ele tinha vindo de bicicleta, mas como estava muito
escuro, ele não tinha luzes e estava muito cansado, pediu-me
para o levar no bólide. Ok! Uma boa razão para deixar
o trabalho que estava a correr mal. Muitas vezes é melhor
recomeçá-lo no dia seguinte do que estar a massacrar
o cérebro com o mesmo problema durante horas. Além
disso, não tinha almoçado, mal tinha lanchado e já tinha
passado a minha hora de jantar há algum tempo... A minha
e a dos americanos, o que tornava difícil arranjar alguma
coisa, barata, aberta.
Meti gasolina e fomos para San Rafael, onde mora
o Ben. Fomos na conversa acerca da tal tipa que não fez
nenhum e que nesse dia tinha passado o dia no gabinete do Ben e
não o deixou fazer nada também, porque estava sempre
a distraí-lo... Além disso a tipa não sabia
o que era um desodorizante o que tornava a sobrevivência,
no pequeno gabinete dele, quase insuportável. Disse-lhe
o que pensava do facto e gozámos com o facto de alguém
ter andado a pôr ambientador no gabinete do Ben...
Como temia, quando chegámos a San Rafael
já estava quase tudo fechado e acabámos por ir ao
mesmo sítio que tinha ido com ele, quando fomos a Napa ver
a Diesel MTB World Cup. Chama-se The Broken Drum e aquela hora
estava com um andamento apreciável... A música alto
e um DJ a misturar umas coisas interessantes, as pessoas espalhavam-se
pelo pequeno espaço entre a esplanada coberta e o interior
da cervejaria, género americano... Em tons de amarelo. Não
tem nada de especial, mas o ambiente estava porreiro, malta jovem
na conversa e boa música. Nem parecia que estava nos Estados
Unidos. Mas assim que chegou a comida caí na realidade,
estava mesmo cá... Que nojo! Como é que é possível
comer-se comida americana. Antes o MacDonalds...
Fui deixar o Ben a casa e ainda tive tempo de fazer
inversão de marcha numa rua de sentido único... O
que vale é que reparei a tempo e consegui corrigir a coisa
antes de aparecer alguém... Mas quem é que anda na
rua àquela hora?
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