C84 SEGUNDA-FEIRA, 15 DE MAIO DE 2000
O Voo de Ícaro - Fotografia de Rui Gonçalves

Pelos vistos esqueci-me de vos dizer que na passada quinta-feira fez quatro meses que cheguei a São Francisco.

Sexta-feira, 12 de Maio de 2000

Finalmente o fim da semana. Fui na Vaynessa para o escritório, o que me faz ficar com mais energia e vontade de trabalhar. Exercício pela manhã faz com que as vontades sejam outras... Ou é o cheiro a fim-de-semana que muda a disposição das pessoas.

Cheguei ao escritório e vinha a assobiar pelo corredor, para ir falar com o Vikram, quando passo pelo Jesse e mando-lhe um encontrão na brincadeira... Quando volto de falar com o Vikram, o Jesse pergunta-me se tinha tomado dois expressos, tal era a minha aparente energia... E manda-me um encontrão que quase me faz chegar ao meu gabinete sem ter que passar na casa da partida nem receber dois contos.

O dia prosseguiu sem sobressaltos até à normal hora do lanche, esta semana recheada de queijos e salsichas de cocktail. Eu acho piada a estes tipos que dizem que não comem as salsichas porque são feitas com restos de carne... E depois põem margarina nas bagels. Se eles soubessem como é que se faz margarina.

Ok! Mas isso não é importante. Importante é que estivemos a falar como de costume à volta de umas cervejas e de uns queijos, até que os matrecos estavam desocupados e fui dar umas matrecadas. Na falta de companheiros, a Mary-Ann jogou com o Sri, contra mim e o Ben, cada um a jogar só com uma mão, e ganhámos 10-8...

O Ben já estava regadinho. Vestiu-se a rigor e foi-me perguntar se não queria fazer uma corrida de bicicleta até minha casa. Eu estava de calças de ganga, camisa e de botas... Sem pedais automáticos. Mas, pronto... Aceitei ir com ele mas avisei-o que não ia correr... Mas assim que começámos a andar já ia na pedaleira maior e a dar o máximo.

Chegámos num instante, suámos o álcool e combinámos encontrarmo-nos à noite em São Francisco.

Tomei um banho, arrumei o saco e fui no bólide para São Francisco. Maldita hora, porque estacionar o bicho na Tenderloin, onde mora a RM&P é uma dor de cabeça, que demora a passar. Deixei o bólide num estacionamento de meia hora e fui a casa delas ver o que se passava.

Depois de tudo combinado, e de ter telefonado ao Ben, eles foram jantar e eu fui estacionar o carro. Como tinha lanchado bem, não tinha fome... Nem eu, nem a Rita que me foi fazer companhia.

Eles foram a um outro tailandês, mais espaçoso e com melhor aspecto que o do costume... Acho que os costumes mudaram, por aqui também.

Estava muita gente a jantar. Mesmo muita... Já nem me lembro quantos, mas até o João tinha cá um amigo, a Joana tinha cá o Pedro e de resto... Eram muitos.

Saímos dali e fomos para o Make-Out Room na 22nd entre Mission e Valencia. O bar do costume... E estava melhor que o costume... Mas o estacionamento estava impossível.

O Ben já tinha chegado. Eu e o Ben, resolvemos começar a re-treinar o nosso francês (ele é do Quebec) e andámos há alguns dias a falar francês. E estávamos a falar francês, quando reparámos que umas tipas atrás de nós estavam a ver fotos de Paris. Uma dela reparou que estávamos a falar francês e disse "These guys are french" e nós respondemos "What?"... A tipa ficou fula por estarmos a gozar com ela. Além disso eram lésbicas...

O Tiago estava a dar o máximo e resolveu pôr-nos a beber um shot de tequilla. Bem, a semelhança entre um shot de tequilla e um copo de bagaço, nesta terra, não é coincidência... Os shots por aqui, são verdadeiras cargas de profundidade. Não que a tequilla seja má, porque não era, mas porque os copos são quase os copos de bebida normais, só que mais baixos e mais largos... Mas ninguém deixou de beber por causa disso.

No entretanto o facto de estar a falar francês, trouxe mais uma amiga ao Ben. Sim, não sei porquê ela engraçou com o rapaz. E eu e o Tiago, mantínhamos uma conversa cruzada com eles os dois, mas nós falávamos em português, o que baralhou completamente a mente limitada da rapariga, que se passeava com um namorado que usava um chapéu tailandês, que mais parecia um abajur. Quando o Tiago lhe perguntou onde é que se acendia a luz, a rapariga ficou com cara de nojo e nós fomos à nossa vidinha...

Estivemos ali na conversa até cerca da 1h30m da manhã, hora em que éramos quase os únicos clientes do bar e resolvemos ir embora. Fomos dormir a casa da RM&P.



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