QUARTA-FEIRA, 12 DE ABRIL DE 2000 C63
Lake Tahoe - Fotografia de Rui Gonçalves

Na crónica de ontem esqueci-me de vos contar algumas coisas.

Esqueci-me de vos dizer que a estância de esqui se chamava Heavenly e que podem ver em http://www.skiheavenly.com/, onde diz trail map (em baixo) os mapas das pistas...

Na segunda ou terceira descida na pista Patsy's, que estava quase deserta, oiço um berro "Look out" nas minhas costas, e que interrompeu a minha concentração nos slides. Sem olhar para trás senti alguém a escorregar a grande velocidade direito às minhas costas. Era uma tipa numa snowboard completamente descontrolada monte abaixo e veio embater contra os meus esquis. A verdade é que não caí por sorte e ela ficou ali estendida, depois de me bater e passar. Estava tudo bem...

No fim de bebermos a cervejinha na esplanada e quando o sol já se tinha posto, fomos embora. A Mariana depois das emoções da tarde na sua snowboard, resolveu tentar ver se a prancha também funcionava da mesma maneira na poça de água da nave derretida que havia ali ao lado. Bem, não deliberadamente... Mas tropeçou nos cordões ou entrelaçou os cordões e entrou de cabeça na poça... Um momento lindo de se ter visto, depois de tantos naquela tarde.

E não estando satisfeita com estas tropelias, ao chegar a casa resolveu tentar de novo o entrelaçar de cordões e voltou a cair. Mas desta vez não teve tanta piada, porque torceu uns dedos de uma das mãos e fez um arranhão no queixo. Isto só confirma que o alcatrão é mais duro que a água e a neve.

Domingo, 9 de Abril de 2000

Quando acordei eram 8h45m da manhã. O silêncio na casa era impressionante, atendendo que alguns dos elementos queriam ir esquiar novamente nesse dia. Eu já tinha decidido não ir esquiar... Não porque não tivesse gostado, mas posso esquiar quando voltar a Portugal, agora ver e passear no Lake Tahoe é que não vou ter tantas hipóteses de fazer.

Mas voltando ao silêncio. A Rita acordou também e quando me viu eu fiz-lhe sinal que eram 9h. Ela ainda estava com vontade de ir esquiar e resolveu acordar. Mas assim que começou a mexer o corpo depressa se apercebeu que este não estava habituado a esforços daquele género. A Mónica nem sequer se conseguia mexer... Só o Carlos é que estava pronto para outra e pôs-se a acordar toda a gente.

De repente a pressa de sair era enorme... Tínhamos que sair antes das 10h. O que vale é que a casa estava mais ou menos arrumada, graças à Rita que se tinha preocupado com isso antes de se deitar.

De repente estava decidido quem ia esquiar, quem ia passear, quem ia com quem e quem ficava com quem. 3 carros foram esquiar e outros 3 foram embora. Eu fui com o Tom, a Rita, Mónica e Patrícia, dar a volta ao lago até apanharmos a auto-estrada 50 a norte para San Francisco.

A estrada começava no meio de um arvoredo, mas de repente aproximava-se do lago em curva e contra curva a serpentea-lo, até que num ponto estávamos num alto a cerca de 50m acima da água que aparecia de ambos os lados da estrada. Uma vista espectacular. Do lado direito, estava a Emerald Bay, que é uma baía (como diz o nome) com uma garganta muito apertada e que no seu centro tem uma ilha com uma capela em honra a um dos primeiros colonos da zona do lago. O tal colono de alcunha "Dick" aparentemente gostava de se emborrachar em Lake Tahoe City, a norte do lago e costumava ir lá de vez em quando, uma das vezes foi apanhado por uma tempestade e teve que cortar os dedos dos pés com uma faca tal era o estado dos mesmos e outra vez desapareceu e nunca mais foi encontrado... Construíram-lhe uma capela na ilha.

Parámos no miradouro do lado direito da baía e a próxima paragem foi do outro lado da mesma. Deste segundo miradouro via-se uma pequena queda de água... A neve estava a derreter. O monte apresentava já algumas cores de primavera...

Seguimos e só parámos em Lake Tahoe City para almoçar. Num, mais um, clone do MacDonalds, mas mais caseiro e junto a uma barragem onde se viam umas trutas para aí com quase um metro, nas águas transparentes do lago ou rio que passava ali... E também se viam gaivotas. Vocês não estão a ver, mas há gaivotas no Lake Tahoe. A cerca de 200 km da costa, mas como a quantidade de água e a extensão é tão grande que as gaivotas julgam que aquilo é algum mar.

Mas há mais curiosidades acerca do lago que eu me esqueci de contar. O Lake Tahoe é a fronteira entre o estado da Califórnia e o estado de Nevada. Então a estância onde andamos a fazer esqui era mesmo na fronteira, e podia-se estar a esquiar em Nevada ou na Califórnia sem saber bem onde se estava. Eu nunca saí da Califórnia, mas quando se subia o teleférico via-se uns prédios grandes do lado de Nevada que eram os casinos da fronteira. É que o jogo é proibido na Califórnia, mas não no Nevada e os californianos vão lá gastar o seu ordenado. Outra curiosidade é que no Nevada pode-se fumar em todo o lado (ou quase) e na Califórnia é proibido fumar em quase todo o lado, então o tabaco em Nevada custa cerca de um terço do preço do tabaco na Califórnia. E ainda vos vou contar outra, mas esperem mais um bocado...

Quando entrámos na auto-estrada 50 começaram a aparecer uns letreiros de Agricultural Control... Aparentemente iríamos ser revistados porque não se pode entrar na Califórnia com produtos agriculas de outros estados para não estragar as culturas locais com doenças... Isto é com cada pancada. Mas o mais estúpido é que quando chegámos ao controlo apenas nos perguntaram de onde vínhamos, e bastou dizer South Lake City e deixaram-nos passar sem problemas, porque não vínhamos do Nevada. Que confiança...

Depois disso foi só estrada até chegar a casa. A dada altura só eu e o Tom é que estávamos acordados no Volvo 850 do rapaz, que desliza e tem um conforto magnífico. O Tom é um bacano. Também é casado e a mulher não pode estar nos Estados Unidos da América mais que três meses porque não lhe dão visto, ou porque deve trabalhar na Holanda... E andam assim há 5 anos, aparentemente. Mas ele está a pensar voltar, diz que está a ficar farto dos americanos e que em breve vai haver grandes problemas por aqui. Ele, como eu, acredita que em breve vai haver um crash na bolsa e isto vai-se parecer muito com os anos 30... Esperemos que nós na Europa saibamos nos aguentar juntos.

De repente já estava em casa. Estive no ICQ com a Cláudia até ela ir dormir.

Jantei e fui dormir.



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