Desde que vos deixei na quinta à noite,
que a vida acelerou um bocado. Aliás os fins de semana por
aqui são sempre algo acelerados, desde que o tempo ajude.
Outra coisa que me esqueci de contar na Crónica
foi que fazia um mês que vivia na casa com o indiano Singh
em Corte Madera. Neste tempo todo, acho que falei, três vezes
com ele e viu-o cinco vezes. Sabem que quem tem três empregos
e estuda nunca está em casa e quando ele está, ao
fim de semana, eu fujo para ter com os portugas cá do sítio.
A mailing list do pessoal cá do Silicon Valley
começou com 19 pessoas e já vai nas 25. Com um Costa
Riquenho e tudo, no meio.
Mas passemos ao que interessa. Coloquei o tema "If
Things Were Perfect" do album Play do Moby a tocar e aqui vamos
nós, ao som dum baixo ritmado falar da vida de um emigrante
português na Califórnia.
Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2000
Pronto, já não falo do acordar difícil.
Acho que idade já pesa, porque quando era mais novo, o que
eu queria era estar fora da cama e ir para a rua viver, agora acho
que começo a ter medo de encarar a vida... Ou o trabalho.
Eu devia de ter nascido rico e não fazer nada... Se calhar
estava a tratar-me de uma depressão ou coisa parecida. Acho
que preferia ter mais algum do que tenho e ter que trabalhar para
dar valor ao que dificilmente vou tendo.
Mudando de assunto...Estive no ICQ uns minutos a "falar" com
a Cláudia, que vem cá para a semana. Mas foram só uns
minutos, porque eu em vez de acordar às 8h acordei quase às
9h. Tomei banho a correr e fiz a barba, para conseguir chegar ao
escritório às 10h15m.
Fui de Vaynessa, mas de impermeável pois
estava uma morrinha muito fraca, mas nada que assustasse o je.
Cheguei impecável, mas não consegui começar
a trabalhar sem beber duas chávenas de café. Ou eu
ando a ficar imune à cafeína ou o café anda
mais fraco, around here.
O dia passou até a hora do lanche. Já sabem
que a sexta é o dia do lanche na empresa... Bebi de novo
um Cabornet Sauvignon de Napa. De novo um vinho que em Portugal
não valia mais que 500$00 e que cá custa quase 2500$00,
mas pronto, a ignorância é assim. Mas trepava.
Por falar em trepar, a Cláudia telefonou-me
mesmo antes do lanche, porque tinha estado a comer um queijinho
e uma chouricinha com um vinho e preparava-se para ver um novo
programa cómico que passava este FDS em Portugal. O congresso
do PSD. Vocês por aí devem-se ter rido um bocado,
não? Eu só fui ouvindo os discursos, mas...
Mas bebi duas garrafas de tinto ao lanche a meias
com o meu amigo do vinho lá da empresa, e que ainda não
sei o nome e a Mary-Ann, uma tipa que trabalhava na Silicon Graphics
e agora trabalha na EAI. A Mary-Ann, acho que é uma das
bosses lá do escritório, e é tipo uma mulher
de meia idade, que não tem pescoço, anda sempre de
forro polar e calças de malha... Não é feia,
mas a minha mãe até é mais bonita, para a
idade... E eu nunca me interessei pelas amigas da minha mãe...
Não sei se alguém gosta de mulheres maduras?
Saí um bocado já bebido, é verdade.
Fui para casa na Vaynessa, arrumei o saco a correr e fui apanhar
o 20 para SF. Tinha um jantar em Mountain View, Silicon Valley,
quase 40 km a sul de SF. Meti uma garrafa de tinto Cabournet Sauvignon
de Napa no saco e um saca rolhas. O vinho era o mais barato do
supermercado, mas nem era mau, achava eu, em comparação
com o branco que eu uso para temperar a comida. 800$00 de vinho, é o
mais barato por aqui.
Saí em SF, depois de vir quase a dormir no
autocarro. Andei 15 minutos a pé até a estação
do Caltrain onde ia
apanhar o comboio até Mountain View. Bebi uma cervejinha
enquanto esperava pela RM&P e o Diogo. A Patrícia e
o Diogo resolveram ficar em casa e não apareceram.
Eu a Rita e a Mónica fomos no comboio e num ápice
a garrafa de vinho que até era para o jantar, passou a ser
para o lanche. Pão e vinho no comboio. Só mesmo de
portugueses, só faltava ser um garrafão, mas quem é que
aguenta uma hora de comboio se não beber um copo. Mas também íamos
para uma festa.
Chegámos a Mountain View às 9h15m,
três horas depois de ter saído de Corte Madera. Mas
o que importava era uma giesta que lá estava e que eu tive
que regar. Ela precisava e eu não o fiz por menos. Alguém
tem comboios de dois andares sem casa de banho?
Chegámos a casa do Tiago, Joana e Nuno (que
passa a ser a casa do TJ&N) e encontrámos lá o
resto do pessoal. Até o Antão, a Rita e o Lourenço,
lá estavam. Para quem não sabe o Antão é o
tipo que apareceu numa reportagem da revista do Expresso, antes
de eu vir e que trabalhava onde eu trabalho agora. A Rita é a
esposa e o Lourenço o filho que nasceu há um mês.
O jantar decorreu dentro da normalidade. Falei muito
com o Antão pois queria saber os podres e as coisas boas
da empresa e zona onde eu trabalho. Descobri que vivo a cerca de
5 km da falha de S. André e que a praia mais próxima
de onde eu vivo é sobre a falha... Se um tipo está na
praia e dá-se um terramoto podemos ser engolidos... Vou
lá esta semana... Quero puder dizer que já vi a falha
tectónica mais importante do planeta.
O Lourenço não queria dormir e o Antão
e a Rita iam-se embora, mas puseram-se na conversa, O Lourenço
adormeceu e quando eu fui dormir às 3h30m da manhã ainda
se falava da cultura, interesses e contrariedades americanas.
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