C36 SÁBADO, 26 DE FEVEREIRO DE 2000
Festa em Casa do TN&J - Fotografia de Tiago Sanches

Desde que vos deixei na quinta à noite, que a vida acelerou um bocado. Aliás os fins de semana por aqui são sempre algo acelerados, desde que o tempo ajude.

Outra coisa que me esqueci de contar na Crónica foi que fazia um mês que vivia na casa com o indiano Singh em Corte Madera. Neste tempo todo, acho que falei, três vezes com ele e viu-o cinco vezes. Sabem que quem tem três empregos e estuda nunca está em casa e quando ele está, ao fim de semana, eu fujo para ter com os portugas cá do sítio.

A mailing list do pessoal cá do Silicon Valley começou com 19 pessoas e já vai nas 25. Com um Costa Riquenho e tudo, no meio.

Mas passemos ao que interessa. Coloquei o tema "If Things Were Perfect" do album Play do Moby a tocar e aqui vamos nós, ao som dum baixo ritmado falar da vida de um emigrante português na Califórnia.

Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2000

Pronto, já não falo do acordar difícil. Acho que idade já pesa, porque quando era mais novo, o que eu queria era estar fora da cama e ir para a rua viver, agora acho que começo a ter medo de encarar a vida... Ou o trabalho. Eu devia de ter nascido rico e não fazer nada... Se calhar estava a tratar-me de uma depressão ou coisa parecida. Acho que preferia ter mais algum do que tenho e ter que trabalhar para dar valor ao que dificilmente vou tendo.

Mudando de assunto...Estive no ICQ uns minutos a "falar" com a Cláudia, que vem cá para a semana. Mas foram só uns minutos, porque eu em vez de acordar às 8h acordei quase às 9h. Tomei banho a correr e fiz a barba, para conseguir chegar ao escritório às 10h15m.

Fui de Vaynessa, mas de impermeável pois estava uma morrinha muito fraca, mas nada que assustasse o je. Cheguei impecável, mas não consegui começar a trabalhar sem beber duas chávenas de café. Ou eu ando a ficar imune à cafeína ou o café anda mais fraco, around here.

O dia passou até a hora do lanche. Já sabem que a sexta é o dia do lanche na empresa... Bebi de novo um Cabornet Sauvignon de Napa. De novo um vinho que em Portugal não valia mais que 500$00 e que cá custa quase 2500$00, mas pronto, a ignorância é assim. Mas trepava.

Por falar em trepar, a Cláudia telefonou-me mesmo antes do lanche, porque tinha estado a comer um queijinho e uma chouricinha com um vinho e preparava-se para ver um novo programa cómico que passava este FDS em Portugal. O congresso do PSD. Vocês por aí devem-se ter rido um bocado, não? Eu só fui ouvindo os discursos, mas...

Mas bebi duas garrafas de tinto ao lanche a meias com o meu amigo do vinho lá da empresa, e que ainda não sei o nome e a Mary-Ann, uma tipa que trabalhava na Silicon Graphics e agora trabalha na EAI. A Mary-Ann, acho que é uma das bosses lá do escritório, e é tipo uma mulher de meia idade, que não tem pescoço, anda sempre de forro polar e calças de malha... Não é feia, mas a minha mãe até é mais bonita, para a idade... E eu nunca me interessei pelas amigas da minha mãe... Não sei se alguém gosta de mulheres maduras?

Saí um bocado já bebido, é verdade. Fui para casa na Vaynessa, arrumei o saco a correr e fui apanhar o 20 para SF. Tinha um jantar em Mountain View, Silicon Valley, quase 40 km a sul de SF. Meti uma garrafa de tinto Cabournet Sauvignon de Napa no saco e um saca rolhas. O vinho era o mais barato do supermercado, mas nem era mau, achava eu, em comparação com o branco que eu uso para temperar a comida. 800$00 de vinho, é o mais barato por aqui.

Saí em SF, depois de vir quase a dormir no autocarro. Andei 15 minutos a pé até a estação do Caltrain onde ia apanhar o comboio até Mountain View. Bebi uma cervejinha enquanto esperava pela RM&P e o Diogo. A Patrícia e o Diogo resolveram ficar em casa e não apareceram.

Eu a Rita e a Mónica fomos no comboio e num ápice a garrafa de vinho que até era para o jantar, passou a ser para o lanche. Pão e vinho no comboio. Só mesmo de portugueses, só faltava ser um garrafão, mas quem é que aguenta uma hora de comboio se não beber um copo. Mas também íamos para uma festa.

Chegámos a Mountain View às 9h15m, três horas depois de ter saído de Corte Madera. Mas o que importava era uma giesta que lá estava e que eu tive que regar. Ela precisava e eu não o fiz por menos. Alguém tem comboios de dois andares sem casa de banho?

Chegámos a casa do Tiago, Joana e Nuno (que passa a ser a casa do TJ&N) e encontrámos lá o resto do pessoal. Até o Antão, a Rita e o Lourenço, lá estavam. Para quem não sabe o Antão é o tipo que apareceu numa reportagem da revista do Expresso, antes de eu vir e que trabalhava onde eu trabalho agora. A Rita é a esposa e o Lourenço o filho que nasceu há um mês.

O jantar decorreu dentro da normalidade. Falei muito com o Antão pois queria saber os podres e as coisas boas da empresa e zona onde eu trabalho. Descobri que vivo a cerca de 5 km da falha de S. André e que a praia mais próxima de onde eu vivo é sobre a falha... Se um tipo está na praia e dá-se um terramoto podemos ser engolidos... Vou lá esta semana... Quero puder dizer que já vi a falha tectónica mais importante do planeta.

O Lourenço não queria dormir e o Antão e a Rita iam-se embora, mas puseram-se na conversa, O Lourenço adormeceu e quando eu fui dormir às 3h30m da manhã ainda se falava da cultura, interesses e contrariedades americanas.



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