TERÇA-FEIRA, 22 DE FEVEREIRO DE 2000 C31
Tiagos, Nuno e Joana no Bliss - Fotografia de Rui Gonçalves

Sábado, 19 de Fevereiro de 2000

Acordar cedo depois de uma noite de alguns copos, passada a ouvir o ressonar do gajo que está a dormir ao lado e com a luz do sol a bater nas persianas logo pelas primeiras horas da manha, é sempre doloroso. Mas apesar da pequena dor de cabeça que se manifestava sempre que se fazia alguns movimentos mais bruscos e ao levantar, acordar custou menos que durante a semana quando tenho que ir trabalhar. Não sei por quê?

Saí, com os Tiagos (Sanches e Sacchetti), a Joana e o Nuno Moura, para ir tomar o pequeno almoço, dar um salto a Chinatown antes de apanhar o ferry para Sausalito, onde combinámos estar à 1h da tarde para ir andar no barco do Ken.

Fui com o Nuno ao MacDonalds e os outros foram ao Starbuck. Não consigo começar a manhã com um bolo doce. Prefiro o bacon e ovos do Mac. O Mac de Powell é o Mac mais surrealista que já vi. Come-se ao som de música clássica e a ver quadros do Monet na parede, mas no entanto a clientela é do mais rasca possível e imaginário, aliás no domingo tivemos que fugir quando um homeless entrou e se apoderou dos restos da comida de um casal que comia numa mesa perto da nossa. Não que ele fosse perigoso, mas porque o alemão contorsionista e mal cheiroso ao pé dele parecia um campo de rosas.

Dali fomos a Chinatown, porque a Joana e o Tiago Sanches queriam comprar uma máquina fotográfica digital. Chegámos cedo, porque aqui as lojas só abrem às 10h, mas entramos na primeira loja de Chinatown, que por sinal é gerida por mexicanos e de chinesa não tem nada. Já sabíamos o que queríamos e o preço da máquina no mercado, que é o que se deve fazer quando se vai a estes sítios. O preço começou por $300, por uma Fuji MX-1200... E com maus modos. Mas acabou nos $250 e com um sorriso quando viu o dinheiro. Depois percebemos mais ou menos o que o fez ser antipático... É que o tipo falava um bocado de "portunhol". Era o que dizia na montra "Se fala portunhoul". Só acho que ele nos enganou nas memórias...

Dirigimo-nos ao Embarcadero, para apanhar o Ferry. Os bilhetes custavam $4.80, ao contrário do autocarro que custava $2.25, que chulice. Então resolvemos comprar uma caderneta de bilhetes de autocarro que permite andar no ferry por $2.25 - 20%, mas que diz explicitamente que não dá para grupos. A tipa da bilheteira percebeu a jogada e chamou-me para chamar a atenção para isso.

Fomos tirar uma fotos e eu fui falar novamente com a mulher da bilheteira. Perguntei-lhe qual era a lógica de eu pagar $1.80 com senhas pré-compradas, $2.25 no autocarro da mesma companhia e $4.80 no ferry... Resposta dela "Life Sucks doesn't it?" e riu-se... e diz-me a seguir para "eles" não me verem a passar as senhas pré-compradas, de uns para os outros. Eu ri-me e perguntei-lhe quem eram "eles", ao que ela responde que não sabe de nada e nunca me tinha dito nada. Rimo-nos e pagamos $1.80 quando a viagem custava $4.80... Isto em Portugal nunca existiria. Processos tão falíveis e tão facilmente de serem aldrabados em Portugal eram decerto alterados.

Estava um belo dia de sol e a viagem de ferry é magnifica. Fomo-nos afastando da cidade e ela a ficar cada vez mais bonita. Passamos junto a Alcatraz e as suas ruínas e aproximamo-nos de Sausalito que com aquela luz se tornava ainda mais bonita. O Tiago Sacchetti babava-se com tanta água.

Percorremos a marginal à procura de um sítio para comer alguma coisa e comprar água para levar, para o caso de alguém enjoar. Entramos num café com vista sobre a baía e com o melhor café que já tomei em terra de Uncle Sam. Em chávena de cerâmica e tudo... Por 300$00.

Chagamos ao barco do Ken à hora certa, mas tivemos que esperar pelo Mark, que eu não conhecia, e que vinha navegar connosco. O Ken foi conhecendo o pessoal e apresentando-se. O Mark chegou e saímos da marina por volta da 1h30m.

O barco do Ken é um Hunter 40.5, qualquer coisa como 12 metros de barco. Não sei quanto custou, mas vimos na marina um Hunter 45 por 3200 contos... E o Ken diz que é possível arranjar bons barcos até por 1000 contos. Até dá dó ser teso.

Saímos da baía de Sausalito em direcção a Golden Gate, que apesar de ser o nome pelo qual se conhece a ponte é o nome da garganta de entrada da baía. Subimos as velas e desligamos os motores. O vento encheu as velas, mas foi por pouco tempo. Ficámos parados debaixo da GG bridge à espera que o vento soprasse, mas a maré levava-nos para o mar sem vento e decidiu-se ir para a baía a motor. Despejamos todas as fotografias possíveis e imaginárias enquanto estavámos debaixo da ponte. Logo mando-vos algumas.

Passámos por focas e patos. Explicámos ao Ken e ao Mark, porque é que estávamos sempre a dizer 'Mãe da foca' e que não era asneira, era português. Andámos a motor para aí uma hora. Fomos ver os clubes de vela que têm barcos no America's Cup na Nova Zelândia e que são dois daqui de S. Francisco, mais propriamente em Tiburon. Eu estive deslumbrado, sentado na proa do barco ao aproximarmo-nos dos desfiladeiros de Tiburon, onde vivem os ricos cá do sítio e onde uma casa pode facilmente atingir os 400 mil contos. O Ken disse que se trabalhar a vida toda pode ser que ainda consiga vir a limpar os vidros daquelas casas. Nós, tesos, nem isso. Mas a paz de estar ali na proa do barco compensava...

Quando chegámos à marina eram 4h e às 4h30m fomos apanhar o ferry de volta para SF, para ir ver o Desfile do Ano Novo Chinês, que começava às 17h30m. Despedimo-nos do Mark e do Ken e fomos avisados que desta vez passávamos que para a próxima tínhamos que trazer umas cervejitas... Ele percebeu que nos estávamos um bocado ressacados... E que não sabíamos muito bem do costume.

Encontramo-nos com o resto do pessoal em SF e fomos ver o desfile, que de chinês tem muito pouco. Começou com a organização nos seus descapotáveis a passearem e a atirarem rebuçados para a assistência, depois vieram os bombeiros, depois a polícia, depois a guarda de não sei o que, e depois os escuteiros e por fim o primeiro dragão. Ao fim de 2h ainda o desfile ia a meio. Desfila toda a gente da cidade, desde a banda filarmónica dos Gays e Lésbicas até aos estudantes da escola de circo, ou coisa parecida, que foi o melhor momento do desfile. Quando já nos vínhamos embora para casa e nos perdemos todos uns dos outros, eu fiquei sozinho com a Mónica. A um dado momento, os tipos pararam em frente ao sítio em que estávamos e começaram a tocar. Espectacular, um ritmo de tambores quase africano e os saxofones em uníssono.

Cheguei a casa da RM&P quase às 20h, quando o concerto dos Gomez começava às 21h. Comi qualquer coisa, troquei de t-shirt e corremos para o The Fillmore. Eu, o Tiago Sacchetti e o Diogo.

Perdido por cem, perdido por mil. Decidimos ir jantar qualquer coisa já que estávamos atrasados. Por sorte aqui os tipos quando marcam a hora é da primeira parte.

Entrámos e fomos carimbados, com um "Over 21" na mão para que pudéssemos beber álcool. Os Sumack que faziam a primeira parte estavam a actuar, mas nós estávamos mais interessados numa cervejita e em apreciar a sala e o ambiente. Nunca vi um ambiente tão porreiro como aquele, desde que cá estou. Chineses eram para aí dois, mexicanos só o que me carimbou a mão e finalmente algumas raparigas interessantes que alegrem a vista do pessoal.

Os Gomez entraram 'as 10h30m, a sala já estava composta e o público estava a curtir. A teoria de que não se pode fumar em bares e recintos fechados na Califórnia, deve só ser aplicada a tabaco, porque o cheiro a erva era por todo o lado. Os tipos fumam de cachimbo e nunca deixam a chama acender, pelo que não se nota quem é que está a fumar, mas só quem é otário é que não vê.

O concerto durou 1h50m, e acabou com uma versão á-lá Stone Roses do "78 Stone Wobble", fabulosa... Que pôs o resto do pessoal aos saltos. A sala é pequena pelo que eu no fim estava a três filas do palco, muito facilmente. O concerto estava a ser gravado para a Virgin Records, pelo que até pode ser editado em vídeo. Aliás na entrada havia um papel que dizia que o facto de entrarmos ali estávamos a dar autorização à Virgin de usar a nossa imagem para lucro próprio.

Mas os melhores momentos do concerto, foi a primeira música do primeiro encore - Tijuana Lady - e a última do concerto - Whippin' Piccadilly - que foram cantadas pelo público. Eles tocaram duas faixas novas, uma delas meia espanholada.

Saímos quase à 1h da manha e como o autocarro nunca mais vinha fomos a pé. Quando chegámos a casa tínhamos um bilhete a dizer que o resto do pessoal tinha ido a uma festa particular... Mas como não sabíamos a que horas nem quando acabava, e como por aqui 1h30m já é tarde, decidimos não ir.

Adormeci com o baloiçar do barco na cabeça... E cansadíssimo, depois de um dia em cheio e a correr... Até que fui acordado às 4h e às 4h30m quando o resto do pessoal chegou da tal festa particular.

Pelos vistos tinha sido porreira, tal era o estado de alguns... E se no dia anterior éramos muitos, neste éramos mais e, menos ordenados espalhados pela sala, corredor e até no hall dormiu gente.



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