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O "Creoula" é um lugre de quatro mastros. Construído no início
de 1937 nos estaleiros da CUF para a Parceria Geral das Pescarias, o navio
foi lançado à água no dia 10 de Maio e efectuou ainda
nesse ano a sua primeira campanha de pesca. Um número a reter é
o facto de o navio ter sido construído no tempo recorde de 62 dias
úteis.
As obras-vivas a vante, com particular destaque para a roda da proa, teveram
construção reforçada uma vez que o navio iria navegar
nos mares gelados da Terra Nova e Gronelândia.
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O espaço que medeia hoje entre a zona da cobertura de vante (coberta
das praças) e a casa da máquina, era na época o porão
do peixe e em cujos duplos fundos se fazia a aguada do navio. O navio estava
assim dividido em três grandes secções por duas anteparas
estanques que delimitavam, a vante e a ré, o porão do peixe.
A vante do porão ficavam os alojamentos dos pescadores, o paiol
de mantimentos e as câmaras frigoríficas para o isco; a ré,
os alojamentos dos oficiais, a casa da máquina, os tanques do combustível,
o paiol do pano e aprestos de pesca. tinha ainda nos delgados de vante
e de ré vários piques utilizados como reserva de aguada,
armazenamento de óleo de fígado, carvão de pedra para
o fogão e óleos lubrificantes.
Todo o interior do navio era revestido a madeira de boa qualidade e o porão
calafetado para evitar o contacto da moura com o ferro.
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O facto de este navio ser gémeo do Argus e do Santa Maria Manuela permitia a permuta de sobressalentes durante a campanha. O navio largava de Lisboa em fins de Março após a benção e seguia para os Bancos da Terra Nova, Nova Escócia e St.Pierre et Miquelon onde pescava, se as condições o permitissem, até fins de Maio. Dirigia-se então à Nova Escócia (North Sidney) ou à Terra Nova (St.John's), onde reabastecia de isco fresco, mantimentos, combustível e aguada, seguindo para a Gronelândia, onde chegava em meados de Junho, recomeçando a pesca no estreito de Davis (costa oeste) da Gronelândia, até aos 68º de latitude Norte. Se não terminasse o carregamento até principios de Setembro, data tradicionalmente estabelecida como limite para a pesca com dóris nestas paragens, regressava aos Bancos da Terra Nova, onde voltaria a tentar a sua sorte até meados de Outubro. Regressava então a Portugal, onde tinha a sua base nas instalações dos armadores na Azinheira Velha(no Rio Coina, Barreiro). Durante o Inverno o navio arriava mastaréus, sendo revisto todo o seu aparelho fixo e de laborar, bem como as duas andainas de pano. Neste período era igualmente beneficiado o seu casco. Num ano de boa pesca o Creoula podia carregar 12.800 quintais de peixe verde (salgado), o que equivale a cerca de 800 toneladas, bem como cerca de 60 toneladas de óleo de fígado de bacalhau, que vinha armazenado no pique tanque de proa.
O "Creoula" efectuou 37 campanhas atá 1973 e chegou a pescar 600
quintais de bacalhau num só dia, o que corresponde a cerca de 36
toneladas e dá uma média de 660 kg por cada pescador.
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Em 1979 o "Creoula" foi adquirido à Parceria Geral de Pescarias
pela Secretaria de Estado das Pescas, com o apoio da Secretaria de Estado
da Cultura, com a finalidade de nele ser instalado um museu de pesca.
Na primeira docagem levada a efeito, verificou-se que o seu casco se encontrava
em óptimas condições, tendo então sido deliberado
que o navio se manteria a navegar e seria transformado em navio de treino
de mar para apoio na formação de pescadores e possibilitar
a vivência de jovens com o mar. Para tal, a zona de meio-navio, onde
ficava o porão de peixe, foi redimensionada e aproveitada para as
cobertas de 60 instruendos, camarotes e câmara de sargentos, refeitório
das praças e instruendos, casa-de-banho e estação
tratadora de esgotos. Foi ampliada a enfermaria e a capacidade de aguada,
alterado o lastro e substituída a madeira por aço nos mastros.
Em 1992 o navio sofreu algumas alterações na zona de meio-navio,
de que se destaca o aproveitamento duma das cobertas de 9 instruendos em
benefício de um espaço que funciona como biblioteca e sala
de aulas.
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Durante o embarque, os instruendos, enquadrados pela guarnição do navio ( que é propositadamente reduzida), desempenham todas as tarefas da vida de bordo, desde as de auxiliar directo do oficial de Quarto a navegar... até às inevitáveis limpezas diárias e aos trabalhos de copa e cozinha. Para que saibam mais alguma coisa sobre o "Creoula" consultem o pequeno resumo da numenclatura sobre Velas e Mastros que se retirou de uma brochura de edição do própeio NTM "Creoula". |
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Mais informações sobre o "Creoula" em: |
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